* Octávio Guedes Coelho
Estava a pensar... que há muitos anos atrás, desembarquei em Luanda, com a cabeça mergulhada em sonhos e o corpo encadernado num bonito fato de boa fazenda, devidamente engravatado, com os sapatos a brilhar de bem engraxados e escovado de alto a baixo.
Logo ali no cais senti-me aliviado quando percebi que estava em terra não muito diferente da deixada 18 dias antes na Gare Marítima de Alcântara. O sentimento inquietante de que havia deixado para trás o próprio mundo, desapareceu como por encanto.
Á minha volta ia toda uma azáfama de gente rindo, gritando, movendo fardos, arrastando malas e embrulhos, em quase tudo idêntica à do cais de Lisboa, embora aqui as cores fossem mais vivas e os odores mais intensos,
As gentes diferentes na raça e na cor da pele, misturavam-se pacificamente, eram alegres, ruidosas, vestiam-se com roupas frescas e tinham um aspecto mais saudável do que o meu, enfarpelado num fato de alpaca, com maneiras de janota lisboeta.
Ainda não tinha saído do cais, não vira nada e já tinha a certeza de que Luanda e as suas gentes eram lindas.
As escalas que tinha feito anteriormente em 3 portos africanos, tinham-me deixado confundido quanto às gentes e costumes, levando-me a duvidar das narrativas da minha avó Teresa, que eu lia e relia vezes sem conta, vendo-me já a andar pelo calor da cidade e a sentir os cheiros desconhecidos de Luanda, tal a intensidade das descrições feitas nas cartas que me escrevia.
Eu queria e estava ansioso por acreditar, mas durante a viágem céptico como o apóstolo: precisava de ver, para depois crer na África que me tinha calhado em sorte. Mas a querida avó Teresa era senhora de palavra e de grande dignidade.
Eu nunca devia ter duvidado!
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