
* Joaquim António Barroso
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Cantares
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A saudade é a lembrança
De algum beijo já sentido
E agora sem esperança
De tornar a ser vivido.
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Quando um dia me casar
Quero que a lua de mel
Seja em noites de luar
Entre flores num vergel.
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Gosto de todas as flores
Mas das rosas nem falar ...
Rosas falam-me de amores
E de idílios ao luar.
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Vinde avesinhas do céu
Vossos trinados soltar:
Ninguém tão triste como eu
No mundo vive a cantar.
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Adeus, adeus, vou-me embora
Ninguém tem pena de mim ...
Mas tu sim, ó lua chora
Chora meu pranto sem fim.
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Dorme, dorme meu filhinho,
Enquanto eu velo a cantar;
Dorme, dorme, meu anjinho,
Ao som do meu suspirar.
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.Irmão da minha mãe, que não conheci senão das lembranças dela, que morreu tuberculoso aos 21 anos (1915-1936)
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Ilustração - Pedro Souza