Viva a Vida !

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quinta-feira, 18 de abril de 2013

Graca Maria Antunes - Mãe


Havia um mar
Havia um rio
Havia uma casa
Resiste o tempo na floração da Primavera

E o orvalho persiste no plátano florido
Sobrevoa-nos uma ave que entoa o seu canto de partida
Eis que te foste
Como uma flor perdida no deserto
Mãe
Estou aqui

2011-11-17

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Maria Emília - Porto 1920.01.04 / Poceirão 2013.04.17

Maria Emília

17 de Abril de 2013 às 14:23
Maria Emília - Porto 1920.01.04 / Poceirão 2013.04.17
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O LUGAR DA CASA...

Uma casa que fosse um areal deserto;
que nem casa fosse;
só um lugar onde o lume foi aceso,
e à sua roda se sentou a alegria;
e aqueceu as mãos;
 e partiu porque tinha um destino;
coisa simples e pouca, mas destino
crescer como árvore,
resistir ao vento, ao rigor da invernia,
e certa manhã sentir os passos de abril ou, quem sabe?,
a floração dos ramos, que pareciam secos,
e de novo estremecem
com o repentino canto da cotovia

Eugénio de Andrade
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Poema à Mãe

No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe

Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos.

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
   que apertava junto ao coração
   no retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
   ficou enorme, mãe!

Olha — queres ouvir-me? —
 às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;

ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;
ainda oiço a tua voz:    
    
Era uma vez uma princesa          
no meio de um laranjal...

Mas — tu sabes — a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber,

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.

Boa noite.
Eu vou com as aves.


Eugénio de Andrade, in "Os Amantes Sem Dinheiro"
.
Foto Rui Pedro
Foto Rui Pedro

sábado, 5 de maio de 2012

Margarida Piloto Garcia - Terra de sal




Boa noite amigas,sei que ainda é cedo ,que o dia da mãe é só amanhã ,por isso só devia postar isto há meia noite e não agora,no entanto ainda tenho mais uma coisita a fazer,por isso deixo já aqui este miminho uma foto da minha mãe em bebé com um poema que ela escreveu.Dedico á minha mãe e também a todas as amigas que são mães,e aos filhos/as que ainda tenham mãe.beijnhos :-).Um feliz dia da mãe para todos.


Terra de Sal


Essa terra entrança-lhe o cabelo de salmoura.
Os gritos das gaivotas sulcam-lhe a memória como traineiras em mar revolto.
O cheiro da maresia é um perfume de evocações de Agostos idos.
Odores de creme Nivea, o da caixinha azul,
passados numa pele alerta, a imaginar toques proibitivos e sonhados.

Essa terra é um grito de explosão mar fora.
Passeios longos nessa areia partilhada de fulgores,
até deixar o sol morder a pele.
Solta nela o orgulho de mulher.
Traça-lhe os lábios o apetite de um beijo voraz.
Olhos castanhos rasgados de sonhos futuros!
Passeios largos,
rochas altaneiras,
esconderijos descobertos e partilhados.
Subidas fulgurantes em encostas a parir verde e cheiro a seiva.
Ameias de castelo debruçados em sons estereofónicos,
crias dadas à luz por carro veloz.

Essa terra debita-lhe na alma o sotaque arrastado
das peles curtidas pelo mar.
O som melodioso enrolasse-lhe na boca e transforma-lhe as vogais lisboetas em suspiros de sereia.
Traz-lhe em revoadas o espanto provocado da chegada.
Lembra-lhe os encantamentos induzidos,
quando desce de um autocarro,
quando sobe a ladeira,
quando brinca escondida na trama de um chapéu de palha.
Há fluxos de energia gerados pelos ventres quentes
nascidos da mente repleta e farta...insaciável!

Essa terra é um fruto que se come sôfrega
em pedaços carnudos e sumarentos,
mas também se mordisca e lambe até que o sal e o ácido lhe piquem a língua.
Ás vezes solta-se dela o cheiro do pão acabado de cozer,
morno e suculento numa madrugada.

Tem sons de quarto embebidos em desejo,
amálgama delirante de um romance bordado em desespero.
É uma paixão sonhada em vida, um rebentar pelas costuras.
Tantas ruas e esquinas cheias de pedras polidas
por onde deixou a vida escorrer.

Essa terra é-lhe mais fiel do que ela lhe foi.
Aceita-a de volta quando ela a renegou.
Debruçada sobre ondas em marés de Setembro
ela recolhe-a no seu útero,
ressuscita-a em procissão calcorreada
no cheiro de alecrim e rosmaninho.
Talvez os vultos que lhe rasgam a vida se entretenham
no apelo dessa baía.
Ela só quer lembrar o verniz às camadas,
o cabelo longo a cheirar a sol
os remos fendendo a água
as lapas brilhando no meio de ouriços do mar.

A pequena cama onde a criança dormiu
e a mulher sonhou, o gosto da farinha torrada,
vertida na boca que grita na brincadeira em génese,
são alguns dos alinhavos de que foi feita no tear da vida.

Essa terra tem lágrimas brilhando nas escamas
dos peixes saltitantes trazidos pela rede.
O vestido verde ajeita-lhe o primeiro soutien
escondendo-lhe e mostrando a pele suculenta
como um figo maduro.
Adolescência mergulhada em mar profundo,
pose altaneira de quem sabe o que vale.
Existe em si a semente dessa baía rasgada na serra.

Não importa quanto tudo mudou nela, na terra, na vida.
Essa terra é a sua alma e nesse mar fará a sua sepultura.




Margarida Piloto Garcia.


Margarida Piloto Garcia E não é que eu era uma bebé toda gira e sorridente....! Obrigada filhota pelo miminho e por teres colocado um poema que tem muito da minha vida e que foi escrito exatamente na terra de sal.BEIJÕES.

5/5 às 20:58 ·  ·  2