Viva a Vida !

Este blog destina-se aos meus amigos e conhecidos assim como aos visitantes que nele queiram colaborar..... «Olá, Diga Bom Dia com Alegria, Boa Tarde, sem Alarde, Boa Noite, sem Açoite ! E Viva a Vida, com Humor / Amor, Alegria e Fantasia» ! Ah ! E não esquecer alguns trocos para os gastos (Victor Nogueira) ..... «Nada do que é humano me é estranho» (Terêncio)....«Aprender, Aprender Sempre !» (Lenine)

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Convívio do Movimento e Contraste (35) - Convite - Canções de Abril em Maio

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José Mário Branco - Eu vim de longe !

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hertzonline
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Adriano - Lágrima de Preta
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FJFOM
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Vídeo feita para a Semana da Ciência e Tecnologia 2007, com a poesia de António Gedeão cantada por Adriano Correia de Oliveira, com música de José Niza
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Adriano - Cantar da Emigração

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raparigavermelha
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Homenagem a Adriano Correia de Oliveira no 65º aniversário do seu nascimento
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Zeca Afonso - menino do bairro negro
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joaotiagokk
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mariza canta zeca afonso (letra e música)
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Os meios sociais miseráveis do Porto, no Bairro do Barredo, inspiraram o Zeca para a sua balada «Menino do Bairro Negro».
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Zeca Afonso - cantar alentejano

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kraigor
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Catarina Eufémia foi assassinada pela GNR, em Baleizão (Alentejo) a 19 de Maio de 1954, quando com outros operários agrícolas reivindicava melhores condições de vida e de trabalho.
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Zeca Afonso - A Morte Saiu á Rua
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nelsoncsb
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Zeca Afonso No Coliseu ( José Afonso )
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(José Dias Coelho, artista plástico e dirigente do PCP, foi assassinado pela PIDE, em Alcântara (Lisboa) em 19 de Dezembro de 1961)
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"canto moço" filhos da madrugada -
ritual tejo ao vivo estádio de alvalade (1994)
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ritual Tejo Filhos da Madrugada 1994
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Zeca Afonso - Vampiros
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Abrilsemprecamaradas.
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Adriano - Trova do vento que passa
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joaotiagokk
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Adriano Correia de Oliveira - Manuel Alegre
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Zeca Afonso - O Que Faz Falta!!!
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Abrilsemprecamaradas
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Zeca Afonso - Canta Camarada

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Abrilsemprecamaradas
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E não esquecer :
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D'ali e d'aqui - Zeca Afonso - Venham mais cinco

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D'ali e d'aqui - Zeca Afonso - Traz outro amigo também

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ver poemas em
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Convívio do Movimento e Contraste (34) - Poesia Musicada de Abril em Maio

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Convívio do Movimento e Contraste (34) - Poesia Musicada de Abril em Maio

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Eu Vim de Longe
, José Mário Branco

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Quando o avião aqui chegou
Quando o mês de maio começou
Eu olhei para ti
Então entendi
Foi um sonho mau que já passou
Foi um mau bocado que acabou
Tinha esta viola numa mão
Uma flor vermelha n´outra mão
Tinha um grande amor
Marcado pela dor
E quando a fronteira me abraçou
Foi esta bagagem que encontrou
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Eu vim de longe
De muito longe
O que eu andei p´ra aqui chegar
Eu vou p´ra longe
P´ra muito longe
Onde nos vamos encontrar
Com o que temos p´ra nos dar
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E então olhei à minha volta
Vi tanta esperança andar à solta
Que não hesitei
E os hinos cantei
Foram feitos do meu coração
Feitos de alegria e de paixão
Quando a nossa festa se estragou
E o mês de Novembro se vingou
Eu olhei p´ra ti
E então entendi
Foi um sonho lindo que acabou
Houve aqui alguém que se enganou
Tinha esta viola numa mão
Coisas começadas noutra mão
Tinha um grande amor
Marcado pela dor
E quando a espingarda se virou
Foi p´ra esta força que apontou
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Eu vim de longe
De muito longe
O que eu andei p´ra aqui chegar
Eu vou p´ra longe
P´ra muito longe
Onde nos vamos encontrar
Com o que temos p´ra nos dar

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Lágrima de Preta - António Gedeão (Letra) - Manuel Freire (Música)

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Encontrei uma preta

que estava a chorar

pedi-lhe uma lágrima

para a analisar

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Recolhi a lágrima

com todo o cuidado

num tubo de ensaio

bem esterilizado

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Olhei-a de um lado

do outro e de frente

tinha um ar de gota

muito transparente

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Mandei vir os ácidos

as bases e os sais

as drogas usadas

em casos que tais

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Ensaiei a frio

experimentei ao lume

de todas as vezes

deu-me o qu´é costume
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Nem sinais de negro

nem vestígios de ódio

água (quase tudo)

e cloreto de sódio

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Cantar da Emigração - Rosália de Castro (letra) -
José Niza (Música)
Intérprete: Adriano Correia de Oliveira
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Este parte, aquele parte
e todos, todos se vão
Galiza ficas sem homens
que possam cortar teu pão
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Tens em troca
órfãos e órfãs
tens campos de solidão
tens mães que não têm filhos
filhos que não têm pai
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Coração
que tens e sofre
longas ausências mortais
viúvas de vivos mortos
que ninguém consolará

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Menino do Bairro Negro - Letra e música de José Afonso

Os meios sociais miseráveis do Porto, no Bairro do Barredo estiverem na origem desta balada.

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Olha o sol que vai nascendo
Anda ver o mar
Os meninos vão correndo
Ver o sol chegar
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Menino sem condição
Irmão de todos os nus
Tira os olhos do chão
Vem ver a luz
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Menino do mal trajar
Um novo dia lá vem
Só quem souber cantar
Vira também
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Negro bairro negro
Bairro negro
Onde não há pão
Não há sossego
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Menino pobre o teu lar
Queira ou não queira o papão
Há-de um dia cantar
Esta canção
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Olha o sol que vai nascendo
Anda ver o mar
Os meninos vão correndo
Ver o sol chegar
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Se até da gosto cantar
Se toda a terra sorri
Quem te não há-de amar
Menino a ti
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Se não é fúria a razão
Se toda a gente quiser
Um dia hás-de aprender
Haja o que houver
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Negro bairro negro
Bairro negro
Onde não há pão
Não há sossego
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Menino pobre o teu lar
Queira ou não queira o papão
Há-de um dia cantar
Esta canção

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CANTAR ALENTEJANO - Vicente Campinas (poema) e José Afonso (música)

Catarina Eufémia foi assassinada pela GNR, em Baleizão (Alentejo) a 19 de Maio de 1954, quando com outros operários agrícolas reivindicava melhores condições de vida e de trabalho.

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Chamava-se Catarina
O Alentejo a viu nascer
Serranas viram-na em vida
Baleizão a viu morrer

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Ceifeiras na manhã fria
Flores na campa lhe vão pôr
Ficou vermelha a campina
Do sangue que então brotou

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Acalma o furor campina
Que o teu pranto não findou
Quem viu morrer Catarina
Não perdoa a quem matou

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Aquela pomba tão branca
Todos a querem p’ra si
Ó Alentejo queimado
Ninguém se lembra de ti

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Aquela andorinha negra
Bate as asas p’ra voar
Ó Alentejo esquecido
Inda um dia hás-de cantar

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A morte saíu à rua - letra e música de José Afonso

(José Dias Coelho, aerista plástico e dirigente do PCP, foi assassinado pela PIDE, em Alcântara (Lisboa) em 19 de Dezembro de 1961)
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A morte saiu à rua num dia assim
Naquele lugar sem nome para qualquer fim
Uma gota rubra sobre a calçada cai
E um rio de sangue de um peito aberto sai
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O vento que dá nas canas do canavial
E a foice duma ceifeira de Portugal
E o som da bigorna como um clarim do céu
Vão dizendo em toda a parte o Pintor morreu
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Teu sangue, Pintor, reclama outra morte igual
Só olho por olho e dente por dente vale
À lei assassina, à morte que te matou
Teu corpo pertence à terra que te abraçou
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Aqui te afirmamos dente por dente assim
Que um dia rirá melhor quem rirá por fim
Na curva da estrada hà covas feitas no chão
E em todas florirão rosas de uma nação
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Canto Moço - Zeca Afonso

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Somos filhos da madrugada

Pelas praias do mar nos vamos

À procura de quem nos traga

Verde oliva de flor no ramo

Navegámos de vaga em vaga

Não soubemos de dor nem mágoa

Pelas praias do mar nos vamos

À procura da manhã clara

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Lá do cimo duma montanha

Acendemos uma fogueira

Para não se apagar a chama

Que dá vida na noite inteira

Mensageira pomba chamada

Companheira da madrugada

Quando a noite vier que venha

Lá do cimo duma montanha

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Onde o vento cortou amarras

Largaremos pela noite fora

Onde há sempre uma boa estrela

Noite e dia ao romper da aurora

Vira a proa minha galera

Que a vitória já não espera

Fresca brisa moira encantada

Vira a proa da minha barca

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Os Vampiros


(José Afonso)

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No céu cinzento
Sob o astro mudo
Batendo as asas
Pela noite calada
Vem em bandos
Com pés veludo
Chupar o sangue
Fresco da manada
Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada

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Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada

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A toda a parte
Chegam os vampiros
Poisam nos prédios
Poisam nas calçadas
Trazem no ventre
Despojos antigos
Mas nada os prende
Às vidas acabadas

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São os mordomos
Do universo todo
Senhores à força
Mandadores sem lei
Enchem as tulhas
Bebem vinho novo
Dançam a ronda
No pinhal do rei

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Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada

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No chão do medo
Tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos
Na noite abafada
Jazem nos fossos
Vítimas dum credo
E não se esgota
O sangue da manada
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Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada
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Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada

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Trova do vento que passa
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é uma balada de António Portugal e Manuel Alegre do ano de 1963, estando contida no disco Fados de Coimbra cantada por Adriano Correia de Oliveira.
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Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
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Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.
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Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.
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Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.
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Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.
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Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.
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E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.
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Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.
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Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).
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Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.
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E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.
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Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.
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E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.
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Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.
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Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.
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Mesmo na noite mais triste
em tempo de sevidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.
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O que faz falta - Zeca Afonso
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Quando a corja topa da janela
O que faz falta
Quando o pão que comes sabe a merda
O que faz falta
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O que faz falta é avisar a malta
O que faz falta
O que faz falta é avisar a malta
O que faz falta
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Quando nunca a noite foi dormida
O que faz falta
Quando a raiva nunca foi vencida
O que faz falta
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O que faz falta é animar a malta
O que faz falta
O que faz falta é acordar a malta
O que faz falta
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Quando nunca a infância teve infância
O que faz falta
Quando sabes que vai haver dança
O que faz falta
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O que faz falta é animar a malta
O que faz falta
O que faz falta é empurrar a malta
O que faz falta
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Quando um cão te morde a canela
O que faz falta
Quando a esquina há sempre uma cabeça
O que faz falta
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O que faz falta é animar a malta
O que faz falta
O que faz falta é empurrar a malta
O que faz falta
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Quando um homem dorme na valeta
O que faz falta
Quando dizem que isto é tudo treta
O que faz falta
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O que faz falta é agitar a malta
O que faz falta
O que faz falta é libertar a malta
O que faz falta
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Se o patrão não vai com duas loas
O que faz falta
Se o fascista conspira na sombra
O que faz falta
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O que faz falta é avisar a malta
O que faz falta
O que faz falta é dar poder a malta
O que faz falta

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Canta Camarada

(Popular/José Afonso)
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Canta camarada canta
canta que ninguém te afronta
que esta minha espada corta
dos copos até à ponta

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Eu hei-de morrer de um tiro
Ou duma faca de ponta
Se hei-de morrer amanhã
morra hoje tanto conta

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Tenho sina de morrer
na ponta de uma navalha
Toda a vida hei-de dizer
Morra o homem na batalha

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Viva a malta e trema a terra
Aqui ninguém arredou
nem há-de tremer na Guerra
Sendo um homem como eu sou

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Venham mais cinco - Zeca Afonso

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Venham mais cinco, duma assentada que eu pago já
Do branco ou tinto, se o velho estica eu fico por cá
Se tem má pinta, dá-lhe um apito e põe-no a andar
De espada à cinta, já crê que é rei d’aquém e além-mar
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Não me obriguem a vir para a rua gritar
Que é já tempo d' embalar a trouxa e zarpar
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A gente ajuda, havemos de ser mais eu bem sei
Mas há quem queira, deitar abaixo o que eu levantei
A bucha é dura, mais dura é a razão que a sustem
Só nesta rusga não há lugar prós filhos da mãe
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Não me obriguem a vir para a rua gritar
Que é já tempo d' embalar a trouxa e zarpar
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Bem me diziam, bem me avisavam como era a lei
Na minha terra, quem trepa no coqueiro é o rei
A bucha é dura, mais dura é a razão que a sustem
Só nesta rusga não há lugar prós filhos da mãe
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Não me obriguem a vir para a rua gritar
Que é já tempo d' embalar a trouxa e zarpar
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Trás outro amigo também
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Amigo
Maior que o pensamento
Por essa estrada amigo vem
Não percas tempo que o vento
É meu amigo também
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Em terras
Em todas as fronteiras
Seja benvindo quem vier por bem
Se alguém houver que não queira
Trá-lo contigo também
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Aqueles
Aqueles que ficaram
(Em toda a parte todo o mundo tem)
Em sonhos me visitaram
Traz outro amigo também
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Ouvir os poemas musicados em

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Convívio do Movimento e Contraste (35) - Convite - Canções de Abril em Maio


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terça-feira, 29 de abril de 2008

Convívio do Movimento e Contraste (33) - Poesia de Gilberto de Oliveira

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* Gilberto de Oliveira

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Há para aí tão falsos militantes

Cujos ecos de frases bem porreiras

Que vão palrando como verdadeiras

Quando afinal são bocas de talantes

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Em cada esquina nos bons instantes

Correm vencendo todas as barreiras

Deixando um rasto de más sementeiras

Que geram riscos de maiores tratantes

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São lestos nas partilhas dos seu louros

São crassos no ferver da verborreia

Agem como cegos são os touros.


Esquecem porém que as vias verdadeiras

Recusam ser presa de mata-mouros

Têm seus espinhos como sãs roseiras.

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O verdadeiro e sério militante

Não é quem quer ou diz fadado

Mas sim quem na verdade é dedicado

E tem de dar á luta vigor constante

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Tem de saber viver cada instante

Sem vacilar num mundo inacabado

Não pode ser apenas revoltado

Das injustiças que vê a cada instante

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Tem de saber medir as posições

Do certo e do incerto no combate

E não falar apenas aos corações

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Tem de aferir cada resultado

Tem de dominar todas as paixões

Sem pretender ser mais que um soldado.

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Eu conheço militantes

Que são quais seres mutantes

Que mudam como tratantes

Em todos os seus instantes

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Ser militante é estar certo

De proceder com acerto

Sem passar pelo aperto

Esteja longe ou esteja perto

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O militante

Denunciante

É um tratante

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O militante

Se confiante

É triunfante

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O militante

Sendo mutante

É revoltante

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O militante

Exuberante

É traficante

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Um militante

Sendo hesitante

É perturbante

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Um militante

Se é perturbante

Não vai avante

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Um militante

Se petulante

É desprezante

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Ser militante

É ser constante

Em cada instante

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Ser militante

Denunciante

É infamante

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Um militante

Sendo inconstante

É um farsante

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A militância

Com arrogância

É ignorância

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Ser militante

E ignorante

É humilhante

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Ser militante

Preponderante

É de pedante

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Ser militante

Petulante

É um tratante

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Ser militante

E confiante

É relevante

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Lisboa

(1997. 02. 18 - última versão)

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Registados no Depósito de Presos de Caxias (1966/67)

escritos em épocas várias

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Bendito seja o sol que regressou!

Bendita seja a luz que nos dá vida!

A louca tempestade foi vencida,

Por fim a paz ao mundo já voltou!

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Quantas aldeias ela devastou?

Quanta gente, no mar, não jaz perdida?

Quanta seara não foi destruída?

Quantas vidas por nascer ela gorou?

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Que foi que enfureceu os elementos?

Que força, tão cruenta e poderosa,

Quis assim aumentar nossos tormentos?

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"Forças da natureza caprichosa

Esquiva a sábios e a seus inventos!"

- Responde Adamastor com voz truosa.

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Poemas Incompletos

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1. - Vinte e oito de maio, data fatal,

Fascismo e morte são coincidentes

Na minha vida são duas vertentes

Que me causaram o maior mal

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Prisões, tortura, sofrer infernal,

Às mãos de carrascos mais que dementes

Data em que finou o meu mais querido ente

Ficando só p'ra sempre mas leal.

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Que data mais maldita sem defesas

Que semeou em mim tanta amargura

E me deixou sem tino e sem defesas.

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A data que só mal em mim perdura

...................

Por mais que queira vencer o mal que dura.



2. - Vinte e oito de Maio, data fatal,

Da minha vida tão cheia de dor

Não fora ser tão grande o meu fervor

Há muito que teria acabado mal.

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Se aos meus ideias não fosse leal,

Se alguma trégua desse a outro valor,

Jamais teria sentido o calor

Da alma querida a que fui leal.

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Data maldita p'ra sempre lembrada

Fascismo e morte, termos negativos

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3. - Vinte e oito de Maio, fatídica data,

Que na minha vida tanto me marcou

Data em que o fascismo em Portugal vingou

E que não só por mero acaso me fere e mata.

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Foi um tal dia em que a morte desacata

P'ra sempre minha companheira levou

E que a vegetar por cá me deixou

E sem me matar a vida, me desata.

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Gilberto Oliveira, Memória Viva do Tarrafal, Edições Avante!, 1987
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Referência bibliográfica a inserir na Bibliografia temática da «Antologia da Resistência», na secção «Testemunhos»:
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*OLIVEIRA, Gilberto (1987), “A «frigideira»”, Memória viva do Tarrafal, Lisboa, Edições Avante!, col. «Resistência» (n.º 19), 244 p., excerto reproduzido inicialmente por Sandra Cristina Almeida no blogue História e Ciência; http://historiaeciencia.weblog.com.pt/

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At 9:25 AM, Daniel Melo said...
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Breve biografia de José Gilberto FLorindo de Oliveira:

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preso pela 1.ª vez em I/1933, como dirigente das Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas. Saiu em liberdade em III/1935. Participou no VII Cong.º da Internacional Comunista e no VI Cong.º da Internacional Juvenil, em Moscovo, juntamente com Álvaro Cunhal. EM VII/1936 é novamente detido, sendo enviado para o Tarrafal, onde fica enclausurado até I/1946. Participou no II Cong.º Ilegal do PCP (1946). Passou entretanto à clandestinidade, aí permanecendo durante vários anos. Foi membro do Comité Central do PCP, na clandestinidade. Publicou o livro Memória Viva do Tarrafal - Edições Avante, colecção Resistência.

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Escreveu poesia (cujo texto final ajudei a fixar por já estar cego) e outros escritos não publicados, de que me tornou depositário, ainda em vida (Victor Nogueira)


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(fonte principal: AAVV, Tarrafal - testemunhos, 4.ª ed., Lisboa, Edt. Caminho, 1978, p.336).
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Foto/Logotipo de Olho de Lince em - Oficina das Ideias


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domingo, 27 de abril de 2008

Convívio do Movimento e Contraste (32) - Poesia do meu bisavô (7)

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* José de Castro
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Eleições 1949

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Ladraram cãis. Caravana passou !

Entre si se recriminam, raivosos,

Morreu a fama de vitoriosos,

A castanha, nas bocas, estalou !

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A Revolução em marcha, ficou !

Com maior firmeza e mais vigorosos

Meios de afastar os criminosos

Que esta Pátria, em mau signo, gerou.

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Vis alucinados ! A penitência

Que veros portugueses decretaram

Cumpri-la-ei sem uma desistência:

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Deixar esta Pátria que conspurcaram

Indo, audazes, pedir assistência

A quem vossas vidas hipotecaram.

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Eleição 1949

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Um caso, vos conto, sensacional:

O "oitenta por cento" desertou

Da luta encarniçada em que entrou

Para conquista Presidencial !

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Que táctica abraçou o General,

Que fins misteriosos o empurrou

Para fuga que deveras espantou

Toda a concorrência, em geral ?...

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Aqui descrevo a minha opinião

Com sincera imparcialidade:

A Rússia deixou de ser o papão

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Para a lusa gente ! Eis pois, a verdade,

Ele concordou, que o fanfarrão

Nunca alcançou popularidade !

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Eleição de Fev. 1949

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Os revilharistas, mui ansiosos,

Andam contentes, com faro de ratos,

Antegozando o triumfo de Matos,

Que lhes firma a fama de gulosos.

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Eles já se afirmam pressurosos

Mendigando os votos dos incautos,

A quem prometem os salários lautos,

E uma vida de prazeres pomposos !

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Pobres patetas de total cegueira,

Julgam que caminham para a fagueira

Esperança, de seus fins alcançar !

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Sonham já com um Céu azul, aberto !

Mas a Urna diz: No poleiro, por certo,

Outro galo, o bom, há-de cantar !

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Eleições de 1951

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Soneto

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Remar contra a maré é loucura

Quando é marinheiro o remador,

Embora na arte seja doutor,

Não atinge o porto que procura;

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Contra a procela não há bravura,

Coragem, força audaz e valor

Para vencer e a vontade de impor,

Chegando à meta - sua ventura !....

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Exausto e perdida a esperança

De ver despontar a bela bonança,

Volta, para a terra, envergonhado !...

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Quem é o louco que se aventura,

Embora com arte e desenvoltura,

A navegar em mar encapelado.

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Oitava

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Se o senhor Almirante Quintão

Desistiu da sua candidatura,

Foi porque fazia melhor figura

Da que derrotado na eleição;

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Sendo essa a sua convicção,

Lançou para longe a amargura

De não poder atingir a altura

De ser Chefe Supremo da Nação.

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20-7-1951

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Devaneios

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Na Ásia não há pão,

Recolheu todo ao Japão.

Morto este fanfarrão

Volta a Ásia a ter pão.

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A China molhou a sopa

Ao pelo chegou a roupa.

Quem os inimigos poupa,

Deles morrem à choupa.

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Rejubilam os Aliados !

Andam loucos, endiabrados !

Deus queira não sejam quebrados

Laços tão d'acordo dados;

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Era enterrar a vitória;

Vestir de luto a glória,.

Era epílogo na História,

Escrito por pena inglória.

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Compilação do neto e meu tio J. J. Castro Ferreira
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Foto/Logotipo de Olho de Lince em - Oficina das Ideias

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Nota de VN

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«O meu avô Luís comenta a TV. Francamente, supunha que ele era liberal, mas afinal é do tempo da velha senhora, profundamente conservador, contra o post-25 de Abril e adepto da ditadura (ou não tivesse sido legionário). ([1]

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Já o meu avô Barroso [avô «D'arroz» como lhe chamava aos 3 anos, em 1974 com 80 anos] defende posições muito mais progressistas, sendo só contra o comunismo ateu que não dá liberdade de religião e que nem todos os regimes comunistas perseguem a religião. Mas diz ele que o importante é que o governo seja justo [comentando-me que os comunistas defendem os pobres, tal como os cristãos]. Acha muito mal que soltem os PIDES e todos esses reaccionários, que andam a trabalhar na sombra para derrubar a democracia, parecendo‑lhe injusto que tenham solto o Marcelo [Caetano], no Brasil a gozar dos rendimentos. Ah!Ah!Ah! O meu avô Barroso mais progressista do que eu pensava! Sim, que a gente não ganhava nada com as colónias, era só uma exploração. E que é capaz de eles em Angola e Moçambique não quererem fazer mal aos brancos. E assim o tempo modifica ou rectifica as imagens que temos das pessoas. (MCG - 1974.09.22)





[1] - Meu avô Zé Ferreira, nascido em Mora, filho de comerciante ribatejano, químico analista alegre, jovem, despreocupado, que em menino me levava ao cinema e ao café, e de quem recebia o Pim Pam Pum e o Cavaleiro Andante. Meu avô que eu adorava. Casado com a avó Alzira, gorda e doméstica, natural de Matosinhos; no seu colo me refugiava quando á janela o homem do saco aparecia, na Travessa da Carvalhosa, no Porto. Que morreu quando eu era menino, em Luanda, o meu pai chorando ao volante da carrinha. O meu avô viveu com os filhos em muitas terras, até em Angola, onde nasci. O meu avô Luís agnóstico, livre pensador e tolerante, que não aceita os bolcheviques. Do poema «Elegia pela Minha Família Dispersa», escrito em Setúbal».

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Quanto ao General Carmona, a memória que tenho dele é duma fotografia do caixão, publicada na 1ª página dum jornal diário de Luanda. Lembro-me que na altura e mesmo na década de 1960 havia duas sociedades femininas gentílicas em Luanda, cujo verdadeiro nome me não ocorre, uma dedicada ao «Marechal Carmona» e outra ao «Marechal Craveiro Lopes». Não me recordo de alguma dedicada ao ... «Almirante Tomás».

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É verdade que tenho memórias mais antigas, como da viagem dum teco-teco ao colo do piloto na cabina, de Luanda para o Uíge (Carmona) em 1948 (?) (onde António de Sousa Barroso foi missionário antes de ser Bispo do Porto, duas vezes exilado na I República e conhecido como «Pai dos Pobres», ou da minha primeira viagem ao «Puto» no velho «Mouzinho de Albuquerque» )19 dias durava então o percurso) ou da estadia minha e da minha mãe no Porto (1949/1950), na Travessa da Carvalhosa, da viagem no «transatlântico» acarinhado pelos passageiros enquanto a minha mãe «agonizava» no camarote com o enjoo (que nunca tive nas viagens de barco ou de avião), do nosso desembarque na Madeira (feito numa lancha em que eu punha a mão fora de bordo para sentir a água), para além da estadia no Porto. Também me lembro de em 1949/50 termos ido a Fátima, na altura sem a monumentalidade poeterior, do terreno lamacento e das pessoas caminhando de joelhos (em cumprimento de promessas. Para além de cenas em família, recordo a primeira vez que fui «colunável», na primeira fila dum espectáculo, no meio dos espectadores, salvo erro no Coliseu do Porto, com a minha mãe e a minha tia Maria Luísa, em espectáculo com a Amália Rodrigues e o Estevão Amarante.

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Depois do falecimento do meu tio José João descobri no computador dele a digitalização da página do jornal e da reportagem que essa fotografia ilustrava.

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A minha mãe sempre teve o sonho de regressar a Portugal, ao contrário do meu pai, que antes do início da Guerra Colonial sempre conheci como angolano de adopção, não «salazarista», liberal e não racista, adepto da independência de Angola, tal como eu e o meu irmão, nela nascidos, a quem nada dizia, como país estrangeiro, racista e «ocupante» que considerávamos, como não poucos «portugueses de 2ª» (p0rque nascidos nas colónias), o «Puto» (Metrópole) obstáculo ao desenvolvimento socio-económico de Angola Mas enquanto que eu e o meu irmão éramos simpatizantes do MPLA, o mesmo não sucedeu com os meus pais, após o início da Guerra Colonial. em 1961. Do nosso desenraízamento em Portugal dão conta o meu poema «Raizes» e o meu texto «O Impossível Regresso».

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Ao contrário do meu pai, a minha mãe sempre lamentou ter ido para Angola em 1945 e sempre veio a Portugal aproveitando as «licenças» graciosas de 4 em 4 anos, de 6 meses prorrogáveis por outros tantos, ao contrário do meu pai, que entre 1944 e 1974 nunca veio ao «Puto», e nesta altura apenas de fugida para visitar a família ainda sobrevivente e os locais da infância e da juventude, regressando a Luanda onde pretendia continuar após a independência.

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E mesmo em 1975, após a «debandada» dos «retornados», só não regressou porque a isso se opuseram os irmãos e a minha mãe. Contudo o meu irmão, escultor, ainda regressou após a independência, creio que convidado pelo MPLA, mas voltou para um país que ambos e mesmo o nosso pai considerávamos não ser a nossa Pátria, após a mobilização geral de todos os cidadãos angolanos quando do cerco de Luanda, alegando que já lhe chegara o horror e traumatismo duma guerra como furriel miliciano enfermeiro, compulsivamente incorporado nas Forças Armadas Portuguesas, primeiro em zona de combate e depois no Hospital Militar de Luanda, acabando por suicidar-se em 1987, com a vida destroçada e sem terminar o curso de Medicina.
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É um dos muitos mortos e vítima da Guerra Colonial Portuguesa de que não reza a História nem figura no «memorial» dos «mortos» em Lisboa, monumento «venerado» por retornados, militares e saudosistas do «Império» e de Oliveira Salazar.
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sexta-feira, 25 de abril de 2008

Abril em Maio após Novembro (1)

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O Sonho ...
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Fotografia de autor não identificado
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João Abel Manta - Cartoon
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Van Gogh - A Sesta

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Álvaro Cunhal - Desenhos da Prisão
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Pieter Brueghel, o Velho - Festa de Noivado -
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Paula Rego - Crianças voando
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... e a Realidade ou da Primavera ao Inferno !
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Rafael Bordalo Pinheiro - Zé Povinho
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Van Gogh - Comedores de batatas

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Álvaro Cunhal - Desenhos da Prisão

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Cartoon de autor não identificado
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Fotografia de autor não identificado
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Desenho de autor não identificado
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Cartoon de Carlos Marques
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Cartoon de Zé Oliveira
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Volpedo - O quarto Estado
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ideia da sequência e selecção - Victor Nogueira
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