Viva a Vida !

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domingo, 27 de abril de 2008

Convívio do Movimento e Contraste (32) - Poesia do meu bisavô (7)

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* José de Castro
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Eleições 1949

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Ladraram cãis. Caravana passou !

Entre si se recriminam, raivosos,

Morreu a fama de vitoriosos,

A castanha, nas bocas, estalou !

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A Revolução em marcha, ficou !

Com maior firmeza e mais vigorosos

Meios de afastar os criminosos

Que esta Pátria, em mau signo, gerou.

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Vis alucinados ! A penitência

Que veros portugueses decretaram

Cumpri-la-ei sem uma desistência:

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Deixar esta Pátria que conspurcaram

Indo, audazes, pedir assistência

A quem vossas vidas hipotecaram.

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Eleição 1949

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Um caso, vos conto, sensacional:

O "oitenta por cento" desertou

Da luta encarniçada em que entrou

Para conquista Presidencial !

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Que táctica abraçou o General,

Que fins misteriosos o empurrou

Para fuga que deveras espantou

Toda a concorrência, em geral ?...

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Aqui descrevo a minha opinião

Com sincera imparcialidade:

A Rússia deixou de ser o papão

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Para a lusa gente ! Eis pois, a verdade,

Ele concordou, que o fanfarrão

Nunca alcançou popularidade !

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Eleição de Fev. 1949

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Os revilharistas, mui ansiosos,

Andam contentes, com faro de ratos,

Antegozando o triumfo de Matos,

Que lhes firma a fama de gulosos.

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Eles já se afirmam pressurosos

Mendigando os votos dos incautos,

A quem prometem os salários lautos,

E uma vida de prazeres pomposos !

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Pobres patetas de total cegueira,

Julgam que caminham para a fagueira

Esperança, de seus fins alcançar !

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Sonham já com um Céu azul, aberto !

Mas a Urna diz: No poleiro, por certo,

Outro galo, o bom, há-de cantar !

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Eleições de 1951

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Soneto

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Remar contra a maré é loucura

Quando é marinheiro o remador,

Embora na arte seja doutor,

Não atinge o porto que procura;

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Contra a procela não há bravura,

Coragem, força audaz e valor

Para vencer e a vontade de impor,

Chegando à meta - sua ventura !....

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Exausto e perdida a esperança

De ver despontar a bela bonança,

Volta, para a terra, envergonhado !...

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Quem é o louco que se aventura,

Embora com arte e desenvoltura,

A navegar em mar encapelado.

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Oitava

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Se o senhor Almirante Quintão

Desistiu da sua candidatura,

Foi porque fazia melhor figura

Da que derrotado na eleição;

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Sendo essa a sua convicção,

Lançou para longe a amargura

De não poder atingir a altura

De ser Chefe Supremo da Nação.

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20-7-1951

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Devaneios

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Na Ásia não há pão,

Recolheu todo ao Japão.

Morto este fanfarrão

Volta a Ásia a ter pão.

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A China molhou a sopa

Ao pelo chegou a roupa.

Quem os inimigos poupa,

Deles morrem à choupa.

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Rejubilam os Aliados !

Andam loucos, endiabrados !

Deus queira não sejam quebrados

Laços tão d'acordo dados;

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Era enterrar a vitória;

Vestir de luto a glória,.

Era epílogo na História,

Escrito por pena inglória.

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Compilação do neto e meu tio J. J. Castro Ferreira
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Foto/Logotipo de Olho de Lince em - Oficina das Ideias

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Nota de VN

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«O meu avô Luís comenta a TV. Francamente, supunha que ele era liberal, mas afinal é do tempo da velha senhora, profundamente conservador, contra o post-25 de Abril e adepto da ditadura (ou não tivesse sido legionário). ([1]

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Já o meu avô Barroso [avô «D'arroz» como lhe chamava aos 3 anos, em 1974 com 80 anos] defende posições muito mais progressistas, sendo só contra o comunismo ateu que não dá liberdade de religião e que nem todos os regimes comunistas perseguem a religião. Mas diz ele que o importante é que o governo seja justo [comentando-me que os comunistas defendem os pobres, tal como os cristãos]. Acha muito mal que soltem os PIDES e todos esses reaccionários, que andam a trabalhar na sombra para derrubar a democracia, parecendo‑lhe injusto que tenham solto o Marcelo [Caetano], no Brasil a gozar dos rendimentos. Ah!Ah!Ah! O meu avô Barroso mais progressista do que eu pensava! Sim, que a gente não ganhava nada com as colónias, era só uma exploração. E que é capaz de eles em Angola e Moçambique não quererem fazer mal aos brancos. E assim o tempo modifica ou rectifica as imagens que temos das pessoas. (MCG - 1974.09.22)





[1] - Meu avô Zé Ferreira, nascido em Mora, filho de comerciante ribatejano, químico analista alegre, jovem, despreocupado, que em menino me levava ao cinema e ao café, e de quem recebia o Pim Pam Pum e o Cavaleiro Andante. Meu avô que eu adorava. Casado com a avó Alzira, gorda e doméstica, natural de Matosinhos; no seu colo me refugiava quando á janela o homem do saco aparecia, na Travessa da Carvalhosa, no Porto. Que morreu quando eu era menino, em Luanda, o meu pai chorando ao volante da carrinha. O meu avô viveu com os filhos em muitas terras, até em Angola, onde nasci. O meu avô Luís agnóstico, livre pensador e tolerante, que não aceita os bolcheviques. Do poema «Elegia pela Minha Família Dispersa», escrito em Setúbal».

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Quanto ao General Carmona, a memória que tenho dele é duma fotografia do caixão, publicada na 1ª página dum jornal diário de Luanda. Lembro-me que na altura e mesmo na década de 1960 havia duas sociedades femininas gentílicas em Luanda, cujo verdadeiro nome me não ocorre, uma dedicada ao «Marechal Carmona» e outra ao «Marechal Craveiro Lopes». Não me recordo de alguma dedicada ao ... «Almirante Tomás».

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É verdade que tenho memórias mais antigas, como da viagem dum teco-teco ao colo do piloto na cabina, de Luanda para o Uíge (Carmona) em 1948 (?) (onde António de Sousa Barroso foi missionário antes de ser Bispo do Porto, duas vezes exilado na I República e conhecido como «Pai dos Pobres», ou da minha primeira viagem ao «Puto» no velho «Mouzinho de Albuquerque» )19 dias durava então o percurso) ou da estadia minha e da minha mãe no Porto (1949/1950), na Travessa da Carvalhosa, da viagem no «transatlântico» acarinhado pelos passageiros enquanto a minha mãe «agonizava» no camarote com o enjoo (que nunca tive nas viagens de barco ou de avião), do nosso desembarque na Madeira (feito numa lancha em que eu punha a mão fora de bordo para sentir a água), para além da estadia no Porto. Também me lembro de em 1949/50 termos ido a Fátima, na altura sem a monumentalidade poeterior, do terreno lamacento e das pessoas caminhando de joelhos (em cumprimento de promessas. Para além de cenas em família, recordo a primeira vez que fui «colunável», na primeira fila dum espectáculo, no meio dos espectadores, salvo erro no Coliseu do Porto, com a minha mãe e a minha tia Maria Luísa, em espectáculo com a Amália Rodrigues e o Estevão Amarante.

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Depois do falecimento do meu tio José João descobri no computador dele a digitalização da página do jornal e da reportagem que essa fotografia ilustrava.

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A minha mãe sempre teve o sonho de regressar a Portugal, ao contrário do meu pai, que antes do início da Guerra Colonial sempre conheci como angolano de adopção, não «salazarista», liberal e não racista, adepto da independência de Angola, tal como eu e o meu irmão, nela nascidos, a quem nada dizia, como país estrangeiro, racista e «ocupante» que considerávamos, como não poucos «portugueses de 2ª» (p0rque nascidos nas colónias), o «Puto» (Metrópole) obstáculo ao desenvolvimento socio-económico de Angola Mas enquanto que eu e o meu irmão éramos simpatizantes do MPLA, o mesmo não sucedeu com os meus pais, após o início da Guerra Colonial. em 1961. Do nosso desenraízamento em Portugal dão conta o meu poema «Raizes» e o meu texto «O Impossível Regresso».

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Ao contrário do meu pai, a minha mãe sempre lamentou ter ido para Angola em 1945 e sempre veio a Portugal aproveitando as «licenças» graciosas de 4 em 4 anos, de 6 meses prorrogáveis por outros tantos, ao contrário do meu pai, que entre 1944 e 1974 nunca veio ao «Puto», e nesta altura apenas de fugida para visitar a família ainda sobrevivente e os locais da infância e da juventude, regressando a Luanda onde pretendia continuar após a independência.

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E mesmo em 1975, após a «debandada» dos «retornados», só não regressou porque a isso se opuseram os irmãos e a minha mãe. Contudo o meu irmão, escultor, ainda regressou após a independência, creio que convidado pelo MPLA, mas voltou para um país que ambos e mesmo o nosso pai considerávamos não ser a nossa Pátria, após a mobilização geral de todos os cidadãos angolanos quando do cerco de Luanda, alegando que já lhe chegara o horror e traumatismo duma guerra como furriel miliciano enfermeiro, compulsivamente incorporado nas Forças Armadas Portuguesas, primeiro em zona de combate e depois no Hospital Militar de Luanda, acabando por suicidar-se em 1987, com a vida destroçada e sem terminar o curso de Medicina.
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É um dos muitos mortos e vítima da Guerra Colonial Portuguesa de que não reza a História nem figura no «memorial» dos «mortos» em Lisboa, monumento «venerado» por retornados, militares e saudosistas do «Império» e de Oliveira Salazar.
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1 comentário:

A OUTRA disse...

Vim só dizer "OLA!"
Bj
Maria