.
* José de Castro
.
Eleições 1949
.
Ladraram cãis. Caravana passou !
Entre si se recriminam, raivosos,
Morreu a fama de vitoriosos,
A castanha, nas bocas, estalou !
.
A Revolução em marcha, ficou !
Com maior firmeza e mais vigorosos
Meios de afastar os criminosos
Que esta Pátria, em mau signo, gerou.
.
Vis alucinados ! A penitência
Que veros portugueses decretaram
Cumpri-la-ei sem uma desistência:
.
Deixar esta Pátria que conspurcaram
Indo, audazes, pedir assistência
A quem vossas vidas hipotecaram.
.
.
Eleição 1949
.
Um caso, vos conto, sensacional:
O "oitenta por cento" desertou
Da luta encarniçada em que entrou
Para conquista Presidencial !
.
Que táctica abraçou o General,
Que fins misteriosos o empurrou
Para fuga que deveras espantou
Toda a concorrência, em geral ?...
.
Aqui descrevo a minha opinião
Com sincera imparcialidade:
A Rússia deixou de ser o papão
.
Para a lusa gente ! Eis pois, a verdade,
Ele concordou, que o fanfarrão
Nunca alcançou popularidade !
Eleição de Fev. 1949
.
Os revilharistas, mui ansiosos,
Andam contentes, com faro de ratos,
Antegozando o triumfo de Matos,
Que lhes firma a fama de gulosos.
.
Eles já se afirmam pressurosos
Mendigando os votos dos incautos,
A quem prometem os salários lautos,
E uma vida de prazeres pomposos !
.
Pobres patetas de total cegueira,
Julgam que caminham para a fagueira
Esperança, de seus fins alcançar !
.
Sonham já com um Céu azul, aberto !
Mas a Urna diz: No poleiro, por certo,
Outro galo, o bom, há-de cantar !
Eleições de 1951
.
Soneto
.
Remar contra a maré é loucura
Quando é marinheiro o remador,
Embora na arte seja doutor,
Não atinge o porto que procura;
.
Contra a procela não há bravura,
Coragem, força audaz e valor
Para vencer e a vontade de impor,
Chegando à meta - sua ventura !....
.
Exausto e perdida a esperança
De ver despontar a bela bonança,
Volta, para a terra, envergonhado !...
.
Quem é o louco que se aventura,
Embora com arte e desenvoltura,
A navegar em mar encapelado.
Oitava
.
Se o senhor Almirante Quintão
Desistiu da sua candidatura,
Foi porque fazia melhor figura
Da que derrotado na eleição;
.
Sendo essa a sua convicção,
Lançou para longe a amargura
De não poder atingir a altura
De ser Chefe Supremo da Nação.
20-7-1951
.
.
Devaneios
.
Na Ásia não há já pão,
Recolheu todo ao Japão.
Morto este fanfarrão
Volta a Ásia a ter pão.
A China molhou a sopa
Ao pelo chegou a roupa.
Quem os inimigos poupa,
Deles morrem à choupa.
.
Rejubilam os Aliados !
Andam loucos, endiabrados !
Deus queira não sejam quebrados
Laços tão d'acordo dados;
.
Era enterrar a vitória;
Vestir de luto a glória,.
Era epílogo na História,
Escrito por pena inglória.
.
Compilação do neto e meu tio J. J. Castro Ferreira
.
Foto/Logotipo de Olho de Lince em - Oficina das Ideias
.
Nota de VN
.
«O meu avô Luís comenta a TV. Francamente, supunha que ele era liberal, mas afinal é do tempo da velha senhora, profundamente conservador, contra o post-25 de Abril e adepto da ditadura (ou não tivesse sido legionário). ([1]
.
Já o meu avô Barroso [avô «D'arroz» como lhe chamava aos 3 anos, em 1974 com 80 anos] defende posições muito mais progressistas, sendo só contra o comunismo ateu que não dá liberdade de religião e que nem todos os regimes comunistas perseguem a religião. Mas diz ele que o importante é que o governo seja justo [comentando-me que os comunistas defendem os pobres, tal como os cristãos]. Acha muito mal que soltem os PIDES e todos esses reaccionários, que andam a trabalhar na sombra para derrubar a democracia, parecendo‑lhe injusto que tenham solto o Marcelo [Caetano], no Brasil a gozar dos rendimentos. Ah!Ah!Ah! O meu avô Barroso mais progressista do que eu pensava! Sim, que a gente não ganhava nada com as colónias, era só uma exploração. E que é capaz de eles em Angola e Moçambique não quererem fazer mal aos brancos. E assim o tempo modifica ou rectifica as imagens que temos das pessoas. (MCG - 1974.09.22)
[1] - Meu avô Zé Ferreira, nascido em Mora, filho de comerciante ribatejano, químico analista alegre, jovem, despreocupado, que em menino me levava ao cinema e ao café, e de quem recebia o Pim Pam Pum e o Cavaleiro Andante. Meu avô que eu adorava. Casado com a avó Alzira, gorda e doméstica, natural de Matosinhos; no seu colo me refugiava quando á janela o homem do saco aparecia, na Travessa da Carvalhosa, no Porto. Que morreu quando eu era menino, em Luanda, o meu pai chorando ao volante da carrinha. O meu avô viveu com os filhos em muitas terras, até em Angola, onde nasci. O meu avô Luís agnóstico, livre pensador e tolerante, que não aceita os bolcheviques. Do poema «Elegia pela Minha Família Dispersa», escrito em Setúbal».
.
Quanto ao General Carmona, a memória que tenho dele é duma fotografia do caixão, publicada na 1ª página dum jornal diário de Luanda. Lembro-me que na altura e mesmo na década de 1960 havia duas sociedades femininas gentílicas em Luanda, cujo verdadeiro nome me não ocorre, uma dedicada ao «Marechal Carmona» e outra ao «Marechal Craveiro Lopes». Não me recordo de alguma dedicada ao ... «Almirante Tomás».
.
É verdade que tenho memórias mais antigas, como da viagem dum teco-teco ao colo do piloto na cabina, de Luanda para o Uíge (Carmona) em 1948 (?) (onde António de Sousa Barroso foi missionário antes de ser Bispo do Porto, duas vezes exilado na I República e conhecido como «Pai dos Pobres», ou da minha primeira viagem ao «Puto» no velho «Mouzinho de Albuquerque» )19 dias durava então o percurso) ou da estadia minha e da minha mãe no Porto (1949/1950), na Travessa da Carvalhosa, da viagem no «transatlântico» acarinhado pelos passageiros enquanto a minha mãe «agonizava» no camarote com o enjoo (que nunca tive nas viagens de barco ou de avião), do nosso desembarque na Madeira (feito numa lancha em que eu punha a mão fora de bordo para sentir a água), para além da estadia no Porto. Também me lembro de em 1949/50 termos ido a Fátima, na altura sem a monumentalidade poeterior, do terreno lamacento e das pessoas caminhando de joelhos (em cumprimento de promessas. Para além de cenas em família, recordo a primeira vez que fui «colunável», na primeira fila dum espectáculo, no meio dos espectadores, salvo erro no Coliseu do Porto, com a minha mãe e a minha tia Maria Luísa, em espectáculo com a Amália Rodrigues e o Estevão Amarante.
.
Depois do falecimento do meu tio José João descobri no computador dele a digitalização da página do jornal e da reportagem que essa fotografia ilustrava.
.
A minha mãe sempre teve o sonho de regressar a Portugal, ao contrário do meu pai, que antes do início da Guerra Colonial sempre conheci como angolano de adopção, não «salazarista», liberal e não racista, adepto da independência de Angola, tal como eu e o meu irmão, nela nascidos, a quem nada dizia, como país estrangeiro, racista e «ocupante» que considerávamos, como não poucos «portugueses de 2ª» (p0rque nascidos nas colónias), o «Puto» (Metrópole) obstáculo ao desenvolvimento socio-económico de Angola Mas enquanto que eu e o meu irmão éramos simpatizantes do MPLA, o mesmo não sucedeu com os meus pais, após o início da Guerra Colonial. em 1961. Do nosso desenraízamento em Portugal dão conta o meu poema «Raizes» e o meu texto «O Impossível Regresso».
.
Ao contrário do meu pai, a minha mãe sempre lamentou ter ido para Angola em 1945 e sempre veio a Portugal aproveitando as «licenças» graciosas de 4 em 4 anos, de 6 meses prorrogáveis por outros tantos, ao contrário do meu pai, que entre 1944 e 1974 nunca veio ao «Puto», e nesta altura apenas de fugida para visitar a família ainda sobrevivente e os locais da infância e da juventude, regressando a Luanda onde pretendia continuar após a independência.
.
.
É um dos muitos mortos e vítima da Guerra Colonial Portuguesa de que não reza a História nem figura no «memorial» dos «mortos» em Lisboa, monumento «venerado» por retornados, militares e saudosistas do «Império» e de Oliveira Salazar.
.
.
1 comentário:
Vim só dizer "OLA!"
Bj
Maria
Enviar um comentário