Viva a Vida !

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terça-feira, 29 de abril de 2008

Convívio do Movimento e Contraste (33) - Poesia de Gilberto de Oliveira

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* Gilberto de Oliveira

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Há para aí tão falsos militantes

Cujos ecos de frases bem porreiras

Que vão palrando como verdadeiras

Quando afinal são bocas de talantes

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Em cada esquina nos bons instantes

Correm vencendo todas as barreiras

Deixando um rasto de más sementeiras

Que geram riscos de maiores tratantes

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São lestos nas partilhas dos seu louros

São crassos no ferver da verborreia

Agem como cegos são os touros.


Esquecem porém que as vias verdadeiras

Recusam ser presa de mata-mouros

Têm seus espinhos como sãs roseiras.

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O verdadeiro e sério militante

Não é quem quer ou diz fadado

Mas sim quem na verdade é dedicado

E tem de dar á luta vigor constante

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Tem de saber viver cada instante

Sem vacilar num mundo inacabado

Não pode ser apenas revoltado

Das injustiças que vê a cada instante

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Tem de saber medir as posições

Do certo e do incerto no combate

E não falar apenas aos corações

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Tem de aferir cada resultado

Tem de dominar todas as paixões

Sem pretender ser mais que um soldado.

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Eu conheço militantes

Que são quais seres mutantes

Que mudam como tratantes

Em todos os seus instantes

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Ser militante é estar certo

De proceder com acerto

Sem passar pelo aperto

Esteja longe ou esteja perto

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O militante

Denunciante

É um tratante

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O militante

Se confiante

É triunfante

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O militante

Sendo mutante

É revoltante

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O militante

Exuberante

É traficante

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Um militante

Sendo hesitante

É perturbante

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Um militante

Se é perturbante

Não vai avante

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Um militante

Se petulante

É desprezante

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Ser militante

É ser constante

Em cada instante

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Ser militante

Denunciante

É infamante

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Um militante

Sendo inconstante

É um farsante

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A militância

Com arrogância

É ignorância

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Ser militante

E ignorante

É humilhante

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Ser militante

Preponderante

É de pedante

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Ser militante

Petulante

É um tratante

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Ser militante

E confiante

É relevante

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Lisboa

(1997. 02. 18 - última versão)

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Registados no Depósito de Presos de Caxias (1966/67)

escritos em épocas várias

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Bendito seja o sol que regressou!

Bendita seja a luz que nos dá vida!

A louca tempestade foi vencida,

Por fim a paz ao mundo já voltou!

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Quantas aldeias ela devastou?

Quanta gente, no mar, não jaz perdida?

Quanta seara não foi destruída?

Quantas vidas por nascer ela gorou?

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Que foi que enfureceu os elementos?

Que força, tão cruenta e poderosa,

Quis assim aumentar nossos tormentos?

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"Forças da natureza caprichosa

Esquiva a sábios e a seus inventos!"

- Responde Adamastor com voz truosa.

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Poemas Incompletos

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1. - Vinte e oito de maio, data fatal,

Fascismo e morte são coincidentes

Na minha vida são duas vertentes

Que me causaram o maior mal

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Prisões, tortura, sofrer infernal,

Às mãos de carrascos mais que dementes

Data em que finou o meu mais querido ente

Ficando só p'ra sempre mas leal.

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Que data mais maldita sem defesas

Que semeou em mim tanta amargura

E me deixou sem tino e sem defesas.

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A data que só mal em mim perdura

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Por mais que queira vencer o mal que dura.



2. - Vinte e oito de Maio, data fatal,

Da minha vida tão cheia de dor

Não fora ser tão grande o meu fervor

Há muito que teria acabado mal.

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Se aos meus ideias não fosse leal,

Se alguma trégua desse a outro valor,

Jamais teria sentido o calor

Da alma querida a que fui leal.

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Data maldita p'ra sempre lembrada

Fascismo e morte, termos negativos

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3. - Vinte e oito de Maio, fatídica data,

Que na minha vida tanto me marcou

Data em que o fascismo em Portugal vingou

E que não só por mero acaso me fere e mata.

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Foi um tal dia em que a morte desacata

P'ra sempre minha companheira levou

E que a vegetar por cá me deixou

E sem me matar a vida, me desata.

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Gilberto Oliveira, Memória Viva do Tarrafal, Edições Avante!, 1987
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Referência bibliográfica a inserir na Bibliografia temática da «Antologia da Resistência», na secção «Testemunhos»:
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*OLIVEIRA, Gilberto (1987), “A «frigideira»”, Memória viva do Tarrafal, Lisboa, Edições Avante!, col. «Resistência» (n.º 19), 244 p., excerto reproduzido inicialmente por Sandra Cristina Almeida no blogue História e Ciência; http://historiaeciencia.weblog.com.pt/

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At 9:25 AM, Daniel Melo said...
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Breve biografia de José Gilberto FLorindo de Oliveira:

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preso pela 1.ª vez em I/1933, como dirigente das Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas. Saiu em liberdade em III/1935. Participou no VII Cong.º da Internacional Comunista e no VI Cong.º da Internacional Juvenil, em Moscovo, juntamente com Álvaro Cunhal. EM VII/1936 é novamente detido, sendo enviado para o Tarrafal, onde fica enclausurado até I/1946. Participou no II Cong.º Ilegal do PCP (1946). Passou entretanto à clandestinidade, aí permanecendo durante vários anos. Foi membro do Comité Central do PCP, na clandestinidade. Publicou o livro Memória Viva do Tarrafal - Edições Avante, colecção Resistência.

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Escreveu poesia (cujo texto final ajudei a fixar por já estar cego) e outros escritos não publicados, de que me tornou depositário, ainda em vida (Victor Nogueira)


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(fonte principal: AAVV, Tarrafal - testemunhos, 4.ª ed., Lisboa, Edt. Caminho, 1978, p.336).
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Foto/Logotipo de Olho de Lince em - Oficina das Ideias


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