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* Maria Mamede
ter 04-09-2007 19:59
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ABRIL
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Dei-te meu corpo de lua
E desejos de viagem
Fiz a noite sempre tua
Dei-te meu corpo de lua
Dei-te o barco e a coragem...
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Dei-te o mar da existência
E uma vida de aventura
Do sol a incandescência
E a mim, presente-ausência
Da saudade que tortura...
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Dei-te meu corpo de bruma
Nos brocados do anil
Aragem, coisa nenhuma
Dei-te meu corpo de bruma
Nas alvoradas de Abril!...
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Maria Mamede
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CAMINHOS
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Hoje eu vou cantar os caminhos velhos
De passos antigos
Doutros tempos
Caminhos
Entre muros pardacentos
Com passos perdidos na memória
Caminhos
Com e sem história
Nos vales, nas montanhas, nas ravinas
Caminhos
Feitos caminhando
Por gente
Que partindo ou chegando
Os forma, os transforma
Os ostracisa
Caminhos
De que a gente precisa
Ou esquece
Na maior simplicidade;
Caminhos
Vielas na cidade
De medo, de fado, de ganância
Esconsos caminhos
De abundância
Nas avenidas da iniquidade...
Vielas
Ruas paralelas
Às praças do poder e do dinheiro;
Caminhos
Do ócio sorrateiro
Tortuosos, deprimentes
De palavras dias por entre entes
De navalhas sibilinas
Do pó da perdição
Adulto calvário de meninos e meninas
Caminhos
Da destruição...
Hoje canto ainda
Os caminhos
Dum novo Apocalipse
De tempestade de trovões
Espadas de fogo
De mágoa
Do início e fim de gerações;
Águas invadindo o caminho estreito
Mares de água
No Rio que transborda do seu leito...
Caminhos de purga
O Calvário
Com quedas, Cireneu, Cruz e Sudário
Lanças torturas e esponjas de fel;
Hoje
Só caminhos vou cantar
Peregrinos caminhos
Na procura da Paz
O Graal dos sábios
Caminhos
De nome derradeiro
Nos meus lábios
No tempo de partir
Para chegar!...
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Maria Mamede
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ABRIL DAS ÁGUAS MIL
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Quando foi Abril, no tempo certo
De esperanças mil, de ideais
Cada um de nós foi muitos mais
E Abril se abriu;foi tempo aberto...
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Quando se diss'Abril ao mundo inteiro
Nesse Abril d'águas, choveu flores
E arderam paixões, fogo de cores
Nesse Abril, pra muitos o primeiro...
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E choveu águas mil, nos corações
Águas de paz, sem dor silente
Águas dum futuro conquistado...
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Mas depois, só choveu desilusões!
E o Abril, de novo mais descrente
É outra vez às águas condenado!...
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Maria Mamede
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COMEMORAÇÃO
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Estamos quase a chegar a uma data "marco", passado recente da História do nosso País...
Por tal motivo, deixo-vos aqui uma Carta; alguns já a conhecem, pois já me ouviram dizê-la em Noites de Poesia; outros já a possuem; ofereci-a a várias pessoas, a quem ela agradou e ma solicitaram; hoje, quero partilhá-la com todos (as) quantos (as) sentem como eu senti, quando a escrevi há 10 anos atrás e continuo a sentir (infelizmente) volvido todo este tempo...
Salve-se a Esperança!
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1ª CARTA A ZECA AFONSO
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QUEIXAS
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Zeca,
Que tristeza pensar que foi loucura
Lutar tanto tempo, se afinal
O esquecimento desfez toda a amargura
Todo o sofrimento e todo o mal!
E sofreste tu, por teres cantado
As lutas que devíamos lembrar
E por teres rido e por teres chorado
Por quem tinha medo de falar...
Ó como dói ver que nas campinas
Vergadas por jugos diferentes
Continuam ceifando as Catarinas
Mas mais conformadas, mais descrentes...
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E o choro contido nas palavras
Histórias que trazemos, já contadas
Memórias que não riso, mas pena...
Ai a dor de serem de novo escravas
As gargantas já antes libertadas
Quando cantaram a "Grândola Morena"!
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E esta imensa dor de ver traídos
Os ideais de Abril, renovação
Desse Mês-País, que fez história!
São agora angústia e são gemidos
Os cravos vermelhos da Revolução;
Mais um Alcácer de Bruma na memória!...
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Zeca,
Toma os meus olhos, são fontes sem água
Donde brotaram jorros de alegira
Na liberdade das paixões a arder;
Ai meu Amigo, esta imensa mágoa!
Nosso País, mais uma vez se adia;
Toma os meus olhos, que eu não quero ver!...
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Maria Mamede
ter 04-09-2007
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Foto/Logotipo de Olho de Lince em - Oficina das Ideias
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