Viva a Vida !

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segunda-feira, 29 de abril de 2013

Carlos Rodrigues - " LENDA DOS SEM MEDO "


29 de Abril de 2013 às 18:21
                                        “ LENDA DOS SEM MEDO “

                       Não minto, se no plural vos digo dos lendários
                       João de Sousa e Martim Lopes, que como irmãos se viam,
                       Enquanto juntos passavam de Donzéis a Escudeiros
                       E daí a Cavaleiros, que de outros nada temiam,

                       Tempo em que haviam de firmar pacto insofismável
                       Sobre Livro Sagrado,jura essa que selaria
                       Sua Amizade, de uma forma adulta, saudável,
                       Sendo que qualquer deles ao outro jamais trairia.

                        Assim seria, não fora a realidade ingrata e fria,
                        Que a ambos levaria a apaixonar, puro acaso,
                        Pelo olhar azul, a magia, de Maria Lúcia,
                        Que só um amava, ao outro cortava as asas .

                        Daí para a frente é a desconfiança o sentimento
                        Mais evidente, entre os dois pretendentes à aliança,
                        Mesmo que Lúcia não duvide, um só momento,
                        Que é por João de Sousa e não Martim, sua esperança.

                         Assim o diz, já noiva,a Martim Lopes, confusa
                          Com a insistência, pois seu coração a João pertence;
                          Parte irado o Cavaleiro e de traição o amigo acusa,
                          Sem razão, vingança congemina em sua mente.

                           No próprio dia da Boda, em armas, entra a matar
                           Com seus homens, Dom Martim e o noivo sangra por espada
                           E à noiva rapta e enclausura em seu vetusto solar;
                           Da Amizade jurada,já o que resta é nada.

                           Dá-se, entrementes,a morte de nosso Rei Dom Fernando,
                           O País está dividido, João por Avis luta,
                           Dom João será seu Rei, Martim Lopes, por seu lado,
                           É a Castela encostado que continua a disputa.

                           Quem vence é o Mestre d’ Avis, com ele está João de Sousa,
                            Martim atravessa a raia, em fuga desesperada,
                            Um Cavaleiro de negro o persegue em fera pose,
                            Leva a morte no galope, se não o confunde a lenda

                             Com outro que, em Alcácer, Dom Sebastião perdeu,
                             Aceitemos, mesmo assim, tratar-se de Dom João,
                             Que sem melhor intenção, já a raiva enlouqueceu
                             E apenas tem por desejo cobrar pelo que já se viu.
                            
                             Anos de luta e cansaço,João reencontra Lúcia,
                             Leva decisão tomada, também se sente culpado,
                             Não tem na vida alegria, mas um plano, uma outra via,
                             Manda Lúcia para um Convento e retira-se numa Ermida

                             Que se cuida poder ser a do Ermitão de Sagres;
                              Traz da guerra sete feridas e só quer viver em paz,
                              A Espanha chega sua fama, chamam Eremita Sago
                              Ao que em Tanger,tempo faz, da morte escapou por um triz.

                               Já Dom Martim é infeliz, ‘inda que bravo guerreiro,
                               Por Castela batalhasse e fosse heróico Cavaleiro,
                               Ora, farrapo de si,ouve falar de um tal Freiro,
                               Que em Sagres tem ganho fama de sábio e conselheiro.

                               Lúcia é seu triste passado, ande ela por onde andar,
                               Também já velha e cansada, a saudade continua;
                               Visita, então, o famoso Ermitão, para se aconselhar
                               Sobre a forma de olvidar a vida que já foi sua.

                               Ao santo confessa tudo,não sabe que ele o esconjura,
                               Nem no Freiro reconhece sombra do seu amigo,
                               Já Dom João não esquece, Martim pagará com juros;
                               O Eremita despe a capa, que mais lhe pesa o castigo.

                               Dá-lhe um chá, diz para rezar e não voltar a olhar para trás,
                               Segue-o a curta distância e vai de negro vestido,
                               Cavalgando uma vingança, de que antes não foi capaz,
                               Despido o traje da paz, só a morte tem por sentido.

                               
                                Depressa alcança Martim: - Não me achas conhecido ?
                                ( Lhe pergunta,à queima roupa) – Claro, sois o Ermitão,
                                Convosco consulta tive ou de tal estais esquecido ?
                              - E de meu peito marcado pela espada de um amigo ?

                               
                                  E de minha alma sangrada, minha noiva violentada ?
                                  Olha bem para mim, Martim, não tens medo no olhar…
                                  Mas contas devo ajustar, antes que me acabe a vida,
                                  Tem a tua, por traição, aqui mesmo de acabar.

                                - Horror ! Horror ! meu amigo, é o que sinto, à partida,
                                 - diz Martim,que o reconhece, mas sem temor, o desmonta:
                                 - O trote do teu cavalo perseguiu-me toda a vida,
                                   Faz o que tens a fazer, nem sequer te darei luta.

                                   Te forcei eu a lutar contra mouros e meu Rei,
                                   Foi por mim que te perdeste, por Castela, sempre em fuga,
                                   Sangraste tanto como eu, em África foste um herói,
                                    Hoje Lúcia, que me roubaste,num Convento é reclusa.

                                     Bem te vingaste, Ermitão, mas que mais queres tu de mim,
                                     Fomos, ainda assim, irmãos, com destino quase igual,
                                     Traiu - nos a realidade, foi mais forte que a Amizade,
                                     O Amor, para nós, foi desgraça, lava-te a honra o punhal ?

                                     Pois deixa-me aqui caído, livra-me desse cavalo,
                                     Que não me sai do ouvido, tenho o eco entontecido
                                     Do seu galope em meu crânio e todos hão de senti-lo,
                                     Na tumba para onde irei, sem medo e agradecido.

                                     Pode ser verdade ou não, que quem então o sepultou,
                                     Em Valência de Alcantara, deixou placa que diz:
                                     No coração deste homem nunca o pavor entrou,
                                      Mas quem lá encostar o ouvido há de chegar à raiz

                                     Do eco arrepiante dos cascos desse cavalo,
                                     Que persegue Dom Martim até na eternidade,
                                     E vem Dom João de noite, pelas trevas, confirmá-lo:
                                   - Se o Amor mata a Amizade, aqui jaz essa Verdade.

                                     Carlos A. N. Rodrigues, 28 / 04 /2013
                                   
LENDA DOS HOMENS SEM MEDO
LENDA DOS HOMENS SEM MEDO


domingo, 28 de abril de 2013

Jorgete Teixeira - liberdade

liberdade

28 de Abril de 2013 às 20:39

liberdade

Já posso deixar-te ir, já deixaram de florir os aloendros que havia no jardim e a figueira há muito que não nos delicia com os seus frutos “pingo de mel”, disse ela com tristeza, como quem guarda a última gota de chuva, segurando-lhe o coração que lhe pulsava nos olhos. Agora podes, disse-lhe sem o olhar, porque lhe sentia as mãos, jovens pombas ancoradas, debatendo-se aflitas.
Deixar-te partir é-me tão natural como se eu fosse a crisálida e tu a borboleta,como se fosses água e eu cisterna e tu te oferendasses em searas de juncos e seiva. Podes ir sem que eu te fira com o meu ciúme, porque em fogo te inscrevi em mim em noites de comunhão. Vai-te e não me olhes, não olhes as marcas onde o teu suor e o meu se misturaram em alamedas de luxúria à flor da pele.
Podes partir, agora que as palavras não são mais do que grafismos vazios, e nelas já não canta a cotovia, nem o cuco da primavera, nem guardam já o eco dos búzios das praias onde nos deitamos. Podes ir antes que nasça a alba, antes que os soutos se cubram de sombras e arrefeçam os bancos de pedra onde nos trespassamos de beijos.
Posso finalmente permitir que te vás, a minha voz não embalará já o teu sono, nem te espantará os medos, mas leva-a contigo, inscrita nas tuas veias como pacto de sangue, para que te aqueça  e te transporte às estrelas quando sentires frio.
Podes ir agora, balbuciou como quem mastiga lágrimas, fecundarás outros seios com os teus amplexos e dos teus ombros nascerão asas com que inventarás novos arco- íris e noutras bocas semearás desejos e ser-te-á estrada, uma outra pele.

Vai e não olhes para trás, não me olhes, estarão cegos os meus olhos.

maria jorgete teixeira






sábado, 27 de abril de 2013

Graça Antunes - Quando


27 de Abril de 2013 às 22:20
Quando
Quando eu partir
Deixem-me ir assim descalça
E mãos abertas ao lamento dos pinhais
Onde os búzios têm a  insólita cor
Dos prados de giestas
E o silvo das aves percorre a pradaria
Como um chamamento das mães
Que pela tarde procuram os filhos
O sitio onde o rosmaninho oculta a gruta
onde uma nascente de água sulfurosa
Sacia a sede aos seres imaginados
No recuado tempo da infância
E ao entardecer o balançar das flores
Terá para mim o mesmo efeito
De um gesto de ternura
Ou de uma ansiada carta de amor
No caminho onde as sombras
Afastam os temores
Porque iluminadas

GMA

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Carlos Rodrigues - " A LENDA DA MAIA "


24 de Abril de 2013 às 13:46
                                                          “ A  LENDA DA MAIA “

                                        
                                         Nos vinhedos e pomares, havia mondas e regas,
                                        Eclodia o mês de Maio,tempo da enxertia certa,
                                         Por tudo o que era terra, quando das águas liberta
                                         A mulher do Mestre Chico deu à luz,rogando pragas

                                         Ao marido que, cansado, corria por um atalho,
                                         Para não chegar atrasado ao nascimento da cria,
                                         Que esperava bem fosse macho, pois ainda nem sabia
                                         Que menina estranha e fraquinha é que era já sua filha.

                                         Tinha um rosto pequenino e sorria angelical,
                                         O que não era normal, pois mal havia nascido,
                                         Já lhes estendia os bracinhos e um perfume era sentido
                                         E uma música se ouvia, de teor celestial.

                                      - Não é daqui esta criança – diz logo o pai ao prior
                                      - Deus nos valha, é irreal – especial será – diz o pároco,
                                        Já pensando no Baptismo – é uma bênção, Chico, estás louco ?
                                        Pois nem tão pouco vês que te cumpre agradecer

                                         Este hálito de flor fresca, esta música harpejada,
                                         Dá graças aos céus, por tua filha, homem do diabo,
                                         Dar-te-ei certificado, logo após o baptizado
                                         E mais vos digo, esta menina é isenta de pecado,

                                        Traz  os encantos de Maio, pois que nesse mês nasceu,
                                      - Dela se rirão, Padre, por ser assim tão diferente
                                      - Diz o Mestre vinhateiro, baixinho, timidamente,
                                        Ademais sendo fracota, quando um rapaz ele pediu,

                                         No campo não a metia, mas já que tinha de ser…
                                         Tão bem a havia de querer como se macho fosse;
                                         Só que para a proteger a fechou até aos doze,
                                         Em casa, chamando Maia à flor, que não deixaria abrir,

                                         Para que dela não se rissem, na rua não a veriam,
                                         E ela sofria e eles diziam ser ainda muito nova
                                         Para andar lá por fora, porque cruel era o povo,
                                         Dela fariam troça, decerto a importunariam

                                         Cães e gente curiosa, que notas até ouviam
                                          Os que passavam à porta e ali esperavam horas,
                                          P’lo cheiro a flores que saía, de dentro dela p’ra fora,
                                          Mal  seus pais se sentiriam, temendo o que já sabiam:

                                           Que pelas ruas se dizia que Maia era tão formosa
                                           Que o pai a prendera em casa, com receio que vissem outros
                                           A angelical criatura, que não saía da ostra
                                           E nem sequer saberia de que cor era uma rosa.

                                           Tarde investiga o Cura o estranho procedimento
                                           E aos pais de Maia interroga, com dura disposição:
                                          -Sois assim tão idiotas, como eu penso, ou mais serão ?
                                           Contrapõe Chico, sem medo: Nossa culpa vos isenta ?...

                                           -Julgais falar com razão, mas eu não admito chacota:
                                            Minha filha é uma flor, seus olhos são duas pérolas,
                                            Ai de quem lhe ponha a mão ou um só dedo nas pétalas
                                          ( A mãe soluça engasgada, sorri a filha com a anedota )

                                             Logo se solta um cheirinho que p’lo templo se espalha,
                                             Sobe a música celeste, Maia é uma flor terrestre,
                                             Mas para o Povo é um anjo, cego é o Chico Mestre
                                             E casmurro, mas já cede e agradece:Deus nos valha,

                                             Maia é a poalha d’ouro que das estrelas cai na terra,
                                             É o perfume da Serra, é  cor que nunca esmorece,
                                             É a música dos astros, é tudo o que nos aquece;
                                           - Liberta-a, então, Chico Mestre, e põe fim a esta guerra

                                           - Diz o Pároco, por seu turno, que prisão é para gatuno,
                                           - E tua filha é a alma de que esta terra  precisa,
                                             Já vês como o povo a adora e os seus cabelos alisa,
                                             Deixa - a passear pelos Jardins que o momento é oportuno.

                                             E assim passou a estranheza, subiu a admiração,
                                             Pelo perfume de um sorriso, pela música da Maia,
                                             Flor pequena que ainda cresce, no campo, com tal encanto,
                                             Que o povo solidário à terra chamou Damaia.

                                              Sem prejuízo de outras tantas que, fora da Capital,
                                              Reclamam, tal e qual, seu direito sobre as maias,
                                              Flores, giestas, que tão belas, nos crescem de Norte a Sul,
                                              Maias são também crianças, que pedem pelo mês de Maio.

                                                Carlos A.N. Rodrigues, 23 / 04 / 2013

LENDA DA MAIA
LENDA DA MAIA

Maria Emília - Memória no 7º Dia

Fotos de capa

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Fotos Victor Nogueira - Memória no 7º Dia ~~~~
Maria Emília da Conceição Barroso Nogueira da Silva
~~~~ (1920.01.04 - 2013.04.17) ~~~~
Victor, Susana, Rui Pedro, Manuel e restante família: recordam a mãe, avó e familiar, mulher que foi generosa, lutadora, alegre, amiga e cheia de vida, que permanece na memória e nos corações de quantos a conheceram e amaram. ~~~~~~~~ O lugar da casa, por eugénio de andrade







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