“ TERRAS DA GALEGA “ ( LENDA )
Da Galiza ela viria, dizem os mais informados,
Outros que sim, mas também, já em Santarém viveria
No tempo dos primeiros Reis, nossos antepassados,
Ao certo,para onde iria, não se sabe, nem sabia.
De Santarém para esse lado, pelo agreste passaria,
Ermo, que se dizia, como outros,Terra do Demo,
Por ser deserto cismou: Que bom seria um abrigo,
Onde se pudesse acoitar um viandante ou enfermo;
E se o pensou melhor fez, com tudo o que tinha à mão:
Pedras,tábuas, barro, cordas e cabana construiu,
Primeiro Venda disso fez, depois Estalagem e salão
E tudo o que plantou colheu, foi Galega ou talvez não,
Pois até a Fidalguia, visitava a tosca tasca,
E um Barão lhe prometeu casamento e mordomia,
Que é com mel e não vinagre que se apanham moscas
E ela, modesta não seria, podia ser Rainha um dia.
Mas o nobre Caçador, libertino de verdade,
Quis caçar seu pé de meia, sem cumprir o prometido,
Já ela abrigara, no seu seio,outra amizade:
Idoso honesto e lavado, porém muito adoentado,
Uma filha oacompanhava e ela a tratou como sua,
A ambos se dedicando,pois tinham sonhos iguais:
Transformar em Paraíso o que era só terra nua,
Tarde voltou o Caçador, com intenções imorais,
Mas teria outra surpresa, já que vinha da Iria,
Com ideias de caçar, mas não corça tão tenrinha,
Que, ora, o servia à mesa, perguntou com ironia:
Vens da Corte , Princesinha, para me fazeres a caminha ?
- Não faleis assim, Senhor, pois triste estou por meu pai
E se não fosse esta Santa, mais cedo morto estaria,
- Falais, assim, da Galega, cabra dura, que eu bem sei…
- Pois a ti caço primeiro. Mais depressa que o dizia,
Já estava com a mão na arma ( perdoai-me o eufemismo ),
Surpreende – o a Galega, dá dois pontapés na mesa,
Vai o Barão porta fora, leva entre pernas a cisma,
Caçada que não consola, deixa-lhe a culatra presa.
E,assim o sonho da Galega, por destino nossa irmã,
No labor e na entrega, fez do ermo Terra sã,
E ,hoje, ao vento, crescem crinas dos cavalos na campina,
Chegam toiros da lezíria e há Festa na Golegã !
Carlos A.N. Rodrigues, 9 / 04 / 2013
TERRAS DA GALEGA
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