No outono agreste desta primavera,
Em ritmo igual mas sem cólera
As gotas humedecem as vidraças.
Lá fora, um pântano de vazio.
Cá dentro,em desesperanças corrompidas,
Voam asas de melancolia em redor do meu corpo.
A minha alma, sem rosas nem harmonia,
Adivinha, nesta quietude de tempo,
O mar dolente, o queixume das ondas,o exílio da minha praia.
Eu viajo solidão em indisíveis palavras.
Acocoro-me no território real do tapete
E entrego-me nas imagens ao sonho dos rios tropicais
Que outrora me cegaram os olhos,
Transformo uma tarde de escolhos
Na respiração de uma vida que não volta mais.
Fechei de novo as janelas à ressurreição das lembranças.
Isto, porque a cintilação de um novo mundo já não perfuma de vida a espuma dos dias, porque falta a luz, faltam as marés, falta a esperança, faltam as manhãs douradas, a alegria dos dezoito anos. Só o zumbido do vento, as gotas da chuva, as letras dos sonhos.
Indiferente, a vida retira-se, afoga-se no rolar das horas que caiem uma a uma, e eu enliço-me ( madura e cansada) num tronco de vários ramos, bebedouro de vários pássaros, e arrasto-me na vontade de despejar utopias. Procuro palavras, só me saem sílabas…. E entrego-me ao cheiro das rosas.
as palavras que seduz e nos prende a respiração. Bjos, Clara Roque Esteves
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