Viva a Vida !

Este blog destina-se aos meus amigos e conhecidos assim como aos visitantes que nele queiram colaborar..... «Olá, Diga Bom Dia com Alegria, Boa Tarde, sem Alarde, Boa Noite, sem Açoite ! E Viva a Vida, com Humor / Amor, Alegria e Fantasia» ! Ah ! E não esquecer alguns trocos para os gastos (Victor Nogueira) ..... «Nada do que é humano me é estranho» (Terêncio)....«Aprender, Aprender Sempre !» (Lenine)

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

sobre o ser amigo/a

Amigo de verdade é aquele que deixa de voar
para andar ao nosso lado quando perdemos as nossas asas
Beijos e xis heart emoticon
 



Victor Barroso Nogueira Amigo de verdade é aquele ou aquela que, presente, nos dá sempr e dia-após dia asas para voarmos, como altaneira águia Emoji smile

sábado, 20 de fevereiro de 2016

Margarida Piloto Garcia - Fio de Prumo

Fio de prumo

Sentava-se como se um fio de prumo
lhe atravessasse o corpo adivinhando-lhe os contornos
perdendo-se no sexo maduro a disfarçar gemidos.
Não lhe cresciam asas porque os punhais eram antigos
e tinham nomes de demónios.
As boas memórias rolavam como fome espinha acima,
tentando deitá-la onde as palavras eram leito.
Ela agarrava-se ao fio de prumo até a pele
seguir em frente, deixando-a só, a roer o instinto.
Tentou correr mas tiraram-lhe os abraços umbilicais
engoliram-lhe a boca com beijos adiados
plantaram-lhe mentiras nos seios feitos estrada
Nas horas densas acorrenta-se no silêncio e nos gomos
de pequenas felicidades que come com desejo.
Não morreu ainda, o fio de prumo retesa-a
estica-lhe o coração até ao impossível, por isso sabe.

© Margarida Piloto Garcia.

( todos os direitos reservados ao abrigo do código do direito de autor)

Foto de Jovana Rikalo
 

Silvia Mendonça - despindo a noite


20/2 

CIRANDA POÉTICA
O amigo e poeta Antonio Joaquim Alves iniciou esta Ciranda, convidando-me a participar postar um poema por dia, durante cinco dias e convidar um outro amiga/o a fazer o mesmo. Hoje publico o meu quarto poema e convido o poeta Evaldo Caetano a prosseguir com a ciranda.

DESPINDO A NOITE
Por Silvia Mendonça

Noites semblantes deslizam bronzeado
[insinuantes corpos]
Penumbras nirvanas fingem esconder
[levianos atrevimentos]
Frestas desatentas penetram timidez
[colhida em teu tentador olhar]
Feixes de lua desvendam favos
[de nudez em tuas cenas vadias]
Avalanche febril revela tatuagem
[aos primeiros botões do vestido]

A dança narra...
...mãos falam,
...fronteiras desabam
[entre o bem e o mal]

Em águas púrpuras modelo seios
...pernas em semitons
[concha rara]
Alcanço-me pérola dos mares do Sul
sereia ou mulher
[pressinto agitação]

Marés de domínio embalam crescente strip tease
[a noite vai começar]
Ímpetos deliciosos despem-te o falo obsceno
[o tempo para]
Delírios latejam em meus lábios talhados
[indecente carmin]
Aromas libidos rasgam o ar em gritos úmidos
[safada intimidade]

Loucura fetiche enrosca em dentes
[pelos pubianos]
Gozamos dominação em urros
Entregas...
...gozos...
malícias
Carícias em licor de pêssego,
[entre a banheira e o mar]
Indolente caminha a madrugada
[sob os lençóis egípcios]
Rostos adormecem em prateada luz
[de fresta réstia]

A noite eterna...
sem antes ou depois...
confessa aromas
Apoderando os limites
[venha o que vier]

[Goiânia, 20 de fevereiro de 2016]
[Imagem: Luri]
 

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Silvia Mendonça - Poema Marginal



CONTINUANDO A CIRANDA POÉTICA
O poeta e amigo Antonio Joaquim Alves convidou-em a participar numa "Ciranda Poética". Postar um poema por dia, durante cinco dias e convidar um outro amiga/o a fazer o mesmo. Publiquei dois poemas e desafiei, na primeira vez, a poetisaWaulena d'Oliveira Silva e Filpe Filipe Chinita a continuarem este evento poético. Neste terceiro dia, publico POEMA MARGINAL e desafio a poetisa Vony B S Ferreira a entrar na ciranda.

POEMA MARGINAL
Por Silvia Mendonça

Da primeira à última palavra
Depois da exaustão inflexível que
Silenciosamente
abarca meus poemas
Poso
Cálice virgem de excitação tinto
Saudades buquê
Aroma violino
Pálida entre travesseiros
Em teus ensaios lascivos
Permeados de poses libertinas
Não tenho como evitar
Tua conquista distraída
Tua meiguice em palavras dinamite
Teus gestos de linguajar faminto
Que me seda
Embriagues silábica
Labial
Vulgar vogal
Sou lava em tua boca
Cumplicidade em surdina
É o meu jeito [in] verso
Em cada esquina
Te pego inusitado
Saboreio-te conquistado
Paixão chama sobre medida
Vaga valsas de silêncio
Nos passos delirantes dessa história
Bailo nas ilhas de teu corpo
Na areia que salga tua pele
No encontro de almas
Gêmeas [?]
Chego a ti em borbulhas
Lábios lambuzados de cachoeiras
Mananciais perolados
Nos veios tesos
Negros
Rabiscados em teu peito pelos
Meus dentes tigrados
Invado teus meios
Com palavras sujas
Causo frenesi em teu trânsito
Em teus cruzamentos
Em teus faróis
Caos cativante
[des] amarrações
Da expulsão da mesmice poética
[Des] ocultemos nossas enfermas
[in] quietações
Esperas
Conformismos
Clandestinas tentativas poéticas
Vendem-te palavras falsificadas
Querem-te pela metade
[meio gesto meio escondido]
Trago-te palpitação nas páginas
Cios de encadernações orgasmos
Quero-te inteiro
Completo
Desde o primeiro pulsar
Até os terremotos horrendos
Atravesso trepidações
Maremotos suarentos
Grunhidos dos calores
De posse dos despojos
Entrego-te carinhos
Armo cenas
Roço lábios em tua nuca
[co] lapso de tempo
Assim é esse poema
Marginal
Saltimbanco
Despenteado
Relativo
Germe
[de nós]

[Poema reeditado - 10/02/2016]
[Foto: Hanna Brescia]
 — 

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Sílvia Mendonça - versos [com] sentidos



CONTINUANDO A CIRANDA POÉTICA
Fui convidada pelo amigo Antonio Joaquim Alves a participar numa "Ciranda Poética". Postar um poema por dia, durante cinco dias e convidar uma outra amiga/o a fazer o mesmo. Publiquei hoje o meu primeiro poema - AMO-TE- e convidei a poetisa Waulena d'Oliveira Silva dar continuidade a este evento poético. Waulena postou seu primeiro poema, DUETO. Neste segundo dia, publico VERSOS [COM] SENTIDOS e desafio o poeta Filipe Chinita a entrar na ciranda.

VERSOS [COM] SENTIDOS 
Por Silvia Mendonça

Meus gestos são óbvios?
Mas te prende esse meu jeito atrevido
...raptando teu olhar

Meus caminhos são óbvios?
Mas te encanta eu correr nua pelas estradas
...abraçando cachoeiras

Minhas noites são óbvias?
Mas te fascina quando meu corpo se incendeia
...refletindo cometas

Minhas verdades são óbvias?
Mas te envolvem meus mistérios sagrados
...alucinando realidades

Óbvio é o teu viver sem mim
No instante em que tua libido
Entrega tua excitação na virilha
Injeta o teu olhar predador
Afaga teus arrepios de macho

Óbvio é quando te vês desamparado
Em madrugadas tiranas
Dormindo minhas fantasias
Habitando minhas histórias
Acendendo em meus pavios

Óbvio é teu afogar em minhas costas
Meu cheiro feminino em tuas reentrâncias
Minha escultura Afrodite em tuas texturas
Tua ebulição na simetria dos meus lábios
Teu toque proximidade invadindo o meu agora

Óbvias são tuas mentiras de sedutor
Dedos destemperados no negro do meu vestido
Suspiros embriagados no vão dos meus tecidos
Diluindo encantamentos em Mi (m)
Em um tango silencioso de gemidos.

[Reeditado em 18 de fevereiro de 2016,
especialmente para esta ciranda]

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Sílvia Mendonça - dimensões

O MEU POEMA DE HOJE
*** DIMENSÕES ***
Por Silvia Mendonça.

No rasgo do teto empurro a noite insone
Olhos estiletados no lustre assimétrico
Ouço absurdos que não se materializam
No fundo abissal do túnel não há luz ou trem
Há o apocalipse sustentando minha carne

Flor muda enrosca-se em arame farpado
Haste definindo um eixo geométrico
No ápice do mourão de pedra polida
A curva acentua-se na cordoalha de aço
Fluxo moldado em rotação invertida
Feltro impregnado de metálica resina.

[fevereiro/2010]
[Foto: Hanna Brescia in Pictures]

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Silvia Mendonça - o ser e o tempo

MEU POEMA DE HOJE!

*** O SER E O TEMPO***
Por Silvia Mendonça

Suba os anéis de luz que absorve
[suba]
Saia da estrada antepassada,
do cansaço dos rumos.
Venha para o amor convergente
[nativo[
Que por si só te olha num chamamento magnético.

Entrega-te ao nirvana.
Inspire quietude pela alma.
É um ritual de respiração sutil.
Incensos de poemas de invisibilidades.
Submersão num lago
[de levezas]

Somos muitos,
somos paisagens.
Possuímos a divindade
[encantadora das florestas]
Sou o riacho onde teus mil silêncios bebem.
[Nós trocaremos angústias por vidas frescas]

Sou como tu és.
Nossas asas vasculharão as torres antigas,
Descobrindo fendas nas muralhas do presente.
Desnudando por instantes
[eis o milenar saber]
A poesia é a própria vida.
E nela reside toda diferença.

Vim inteira pra ti,
sem dividir, para trocar.
Olha-me e me tens completa.
Mas se me vês ao meio,
E não te enxergares,
Sou como tu és.

Só assim, as cumplicidades serão possíveis,
Vindas das virtudes sementes.
[Vamos contemplativos e calmos]
Sejamos biombos de desenhos lúdicos,
Rasgados por cactos e hortelãs.

Deixemos a brisa passar com um sopro de esperança.
Nossos abraços, prestes a reencarnar
[absolvidos de culpas]
São verdadeiros,
como são as cores primárias
[vibrando místicas]
No olhar ingênuo e nobre de uma criança.

Nossos gestos, pequenas ambições de amor,
Estarão guardados nas pirâmides que somos,
Porta joias milenares protegendo-nos
[nas eternidades]

Nunca olhe nos meus olhos
sem experimentar a vontade de um grito,
Para lançá-lo ao infinito,
Para que este ecoe
[e volte sempre ao teu coração.]

Não como um berro de palavras,
Mas como a luminescência que desperta.
Como a paz
[que experimenta]

[O nosso primeiro olhar atravessará mundos,
Até vir pousar na poesia]

E, repare: nenhum esboço de resistência,
Nenhum tormento deste cativeiro de ser,
Apagou a leveza que trazíamos no tempo.
[Para que mil anos nos seja inexoravelmente possível]

E como árvores podermos sugar o que é essência.
Desenhemos cada instante agora.
Nesse mundo, nessa cena legível,
[Devemos caminhar de mãos dadas]

Dê-me tuas mãos!
Dorme algumas eternas horas.
Entrega-te às minhas carícias
[de sacerdotisa noturna]

Não, não foi o ruído da morte que ouvistes.
Nem a poesia fúnebre inventada por ela,
[que te despertou]
Foram os meus lábios contando-te
sobre os limites à frente,
Sobre a escuridão sufocando as luzes
[impondo recolhimento]

Vida! Vida!
Gritas, me sacudindo.
Cuidando-me, me acariciando a alma.
O hálito da tua boca murmura afagos
[Armazena perseverança por vida[

Ajude-me a desamarrar–me deste fio condutor.
Liberte as possibilidades que harmonizou.
Se houver talvez, nas manhãs seguintes
seguiremos juntos.
Aprenderemos as lições inestimáveis
dos voos
[em liberdade]

Somos natureza a sós?
Não, nunca!

Somos belos,
Somos loucos,
Somos arte!

[Somos o século que avança...
Antes que apaguem a nossa voz]

[Publicado no Recanto das Letras em 07/03/2009
http://recantodasletras.uol.com.br/poesiastranscendentais/1473657
]

[MENDONÇA, Silvia - Mural dos Escritores - URL:http://muraldosescritores.ning.com/profiles/blogs/o-ser-e-o-tempo
 - 31/01/2010]M

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Chão de Estrelas

8/2 · 
 
BOA NOITE!

"Minha vida era um palco iluminado
Eu vivia vestido de dourado
Palhaço das perdidas ilusões
Cheio dos guizos falsos da alegria
Andei cantando a minha fantasia
Entre as palmas febris dos corações..."

[Chão de Estrelas, Silvio Caldas]


domingo, 7 de fevereiro de 2016

Margarida Piloto Garcia - Obsessões

Boa tarde. 

Não, não é um poema, nem sequer uma prosa poética. É apenas um mini-conto em simples prosa para quem tiver paciência para algo ligeiramente misterioso. 
smile emoticon


Obsessões

Um...inspiração, dois, três...inspiração. Não, não! Volta ao início, desta vez sem se esquecer de inspirar na segunda contagem. Segue depois o ritual preciso e metódico do banho diário. Dez minutos para fazer a barba, uso de uma toalha imaculadamente branca, água a jorrar forte e impetuosa de um moderno chuveiro, temperatura testada com o termómetro. Irrita-se com o pequeno vinco que nota na camisa azul. Aquele pormenor retira-lhe a concentração para continuar a vestir-se como faz todos os dias. Uma veia salienta-se na testa alta, enquanto um ligeiro tremor lhe crispa os lábios. Tenta ignorar e seguir em frente. A gravata tem duas pequenas listas que distam uma da outra, um centímetro cuidadosamente medido. De uma certa maneira, saber disso traz-lhe a paz que a descoberta daquele pequeno vinco lhe tirou.
Não gosta particularmente do caminho até ao escritório. Não pode controlar o trânsito e assola-o sempre uma incerteza que o atordoa. Aquele dia parece mexer-lhe com os sentidos e desacertar-lhe os mecanismos oleados com que mede a vida. Olha repetidamente para as horas marcadas no carro, na esperança de que o tempo do trajecto não exceda o normal. 
E de repente algo lhe subverte a rotina e ameaça transtornar. O sinal vermelho num semáforo fá-lo ficar parado ao lado de um carro azul. Lá dentro uma mulher de cabelo negro olha-o com um sorriso. Repara no batom vermelho, único sinal de maquilhagem no rosto branco. Desvia o olhar, irritado com o sorriso que ela lhe deita. Por causa disso, a noção do tempo torna-se diferente e o semáforo que conhece de cor, parece-lhe distorcer os minutos que faltam para passar de vermelho a verde. Olha de novo para a mulher e agora o sorriso dela parece ter-se estendido até aos olhos. São azuis, quase da cor do carro, e parecem anzóis a serem lançados. E o sinal não muda e ele quer mas não consegue deixar de olhar para o lado. Quando finalmente arranca, tem um fio fino e penetrante de suor a escorrer-lhe pela têmpora direita. O relógio mostra que o tempo de chegada será respeitado mas a ele tudo lhe parece deturpado. 
O dia no escritório corre num nervosismo inexplicável. Aquele acontecimento, não sabe explicar porquê, minou-lhe o dia e fez com que as suas defesas de algum modo se diluíssem e o tornassem inseguro. Não consegue esquecer o sorriso que de algum modo sentiu predatório e o destabilizou.
No dia seguinte refaz todos os passos desde que acorda. Desta vez a camisa está imaculada e de algum modo esse facto transmite-lhe uma paz profunda. Dentro de si instala-se a certeza de que o dia vai correr bem e que as rodas dentadas do mecanismo onde encerrou a vida, vão girar sem entraves. No entanto, à medida que faz o percurso habitual, sente que as pulsações se aceleram. Tenta negar este facto mas sabe, bem lá no fundo, que é a chegada ao semáforo da véspera que o indispõe. E finalmente chega o momento. Desta vez tem um carro à sua frente. Não sabe se há-de ou não olhar para o lado e essa incerteza é irritante. Precisa de controlar todos os aspectos da sua vida e não pode ficar à mercê de imprevistos. Resolve olhar e o carro azul não está lá. Porque deveria estar? Afinal até ao dia anterior nunca tinha dado por ele. Antes de arrancar apercebe-se de que o carro está atrás de si. 
O sinal fica verde e ele é obrigado a seguir o fluxo de trânsito sem poder ver quem nele segue. 
O dia é passado numa espécie de inferno . O pensamento no sorriso que não viu, faz com que almoce dez minutos mais tarde e desarrume a secretária numa imprecisão que detesta. 
Novo dia. Agora todos os processos apesar de seguidos não o sossegam. A obsessão centra-se algures num semáforo que a mente antecipa. Já há um medo palpável que a língua saboreia, um travo metálico ao sangue que galopa nas veias. Desta vez fica em primeiro, pronto a arrancar assim que o sinal mude. Ao lado, um carro preto com um homem de óculos que o olha com desconfiança. Atrás de si, num pequeno carro, uma mulher loura vê-se ao espelho. Um certo desespero tolda-o e sente que a roupa se lhe pega ao corpo. Subitamente a mulher do cabelo negro e lábios vermelhos, atravessa a passadeira. O sorriso que lhe deita é devastador. Por momentos deixa de pensar como se tudo se ausentasse dele e o mundo parasse. Um monumental coro de buzinadelas acorda-o do torpor. Ficou parado e o monstruoso trânsito gritou-lhe a sua indignação. 
No trabalho não consegue concentrar-se. Tenta por diversas vezes arrumar o pensamento mas todos aqueles desacertos lhe parecem burlescos e demoníacos. Contra tudo aquilo em que acredita, vai mais cedo para casa, mas até essa mudança de hábitos lhe acirra a mente.

No dia seguinte não consegue fazer as suas inspirações. Mal dormiu mas precisa de se arranjar e sair. Resolve apanhar um táxi e seguir até à zona do famigerado semáforo. Sai e fica junto dele enquanto o corpo treme como que a ressacar um vício. Durante um certo tempo observa rigorosamente todos os carros que ali passam, todas as pessoas que atravessam a passadeira. Nada!

Não consegue ir trabalhar e apanha outro táxi de volta a casa. Toma novo duche. A água não saiu como gosta e a temperatura parece-lhe demasiado quente. Não consegue comer. A garganta parece ter dentro uma garra a apertar cada vez mais. Não entende o que se passa com ele e sente a vida desmoronar. Toma dois comprimidos e adormece com a esperança de que tudo não passe de um pesadelo.

Um...inspiração, dois...inspiração, três...inspiração. No dia seguinte tudo parece estar a correr certo. O duche, a camisa, a gravata, tudo segue os normais parâmetros da sua vida. 

No trânsito surge o fatídico semáforo. Não vê a mulher do carro azul. A angústia e o medo começam lentamente a invadir-lhe os poros. Olha desesperadamente para o relógio em busca de refúgio. Encontra nele um pouco de paz enquanto o semáforo lhe indica que pode avançar. 

Entra no escritório com passos lentos e contados. Pensa que vai superar aquela obsessão que tão terrivelmente o assolou. Precisa de paz para lidar com o novo cliente que a firma lhe designou e que vai conhecer hoje. Entra na sua sala impecavelmente arrumada. 

Sentada na cadeira de couro branco, a mulher de cabelo negro e lábios vermelhos, sorri-lhe implacável. 

© Margarida Piloto Garcia.

( todos os direitos reservados ao abrigo do código do direito de autor)

Foto da net. Desconheço o autor.