“ A SOMBRA DO TREMOCEIRO”
(Lenda de Estremoz )
Eram perseguidos e vinham caídos, faz sentido,
Se alforges traziam e estremores de longe ou perto,
Da guerra ou da forca fugidos,não sei, mas acredito
Ser gente sofrida,atravessando as brasas do deserto;
Família procurando uma sombra, um abrigo,
É o mais certo, um casal, com uma criança à beira,
Mas eis um tremoceiro em seu caminho, grande, altivo,
Não como os que hoje vejo, quase sempre rasteiros,
É uma árvore prodigiosa,a que acolhe os forasteiros,
Mau grado seu, logo um velho de bordão, meio façanhudo,
Chega e diz- Vós, aí, à sombra do meu tremoceiro…
Ou voltam para donde vêm ou mando-os para o outro mundo.
Rogam os pais pela menina, mas o velho não convencem,
Que é dono de tudo em roda, vai voltar com gente armada,
E o que promete faz, mesmo contra a inocência
Da criança,que pergunta: E tu, Pai, não fazes nada ?...
Pode ser uma garota, mas não dada à desistência,
Foge dos pais e corre, direitinha ao que se move
Pela intransigência e, astuta, alternativa apresenta,
Quer mudar a solidão, que ali se sente e se sofre:
Porque não construir, à volta do tremoceiro,
Uma Cidade,onde todos vivam em paz e amor ?...
-Meus pais, que são construtores, sabem da cimenteira…
Diz ela ( se bem que minta, com notável despudor ).
E o do cajado espantado, com o à vontade da criança,
Acha-lhe graça e sorri – Já a formiga tem catarro?...
Tão pequena e tão ladina, mas olha deste-me esperança…
E então aos seus faz sinal para porem armas por terra
E à fala chega com os pais, para dar sua decisão,
- Mas, senhor- diz o pai dela - nós não somos construtores,
Nem temos calos nas mãos, isso é da imaginação
Da nossa querida filha, perdoai - lhe, por favor,
Que o recitou, sem pensar, como quem defende em palco
Um valor familiar, mas se o perdão vos calhar
E decidires pela construção, palavra dou, de Fidalgo,
Que rasgarei este chão até a Cidade levantar.
- Ó fedelha, diz-me lá, tu me quiseste enrolar?
- Clama o velho, prazenteiro, fingindo má disposição,
Mas já disposto a sentar, à sombra do tremoceiro,
Onde a moça lhe beija a mão, com um sorriso no olhar,
Negando, sábia, o engano, diz que apenas lhe dissera
O que,ora, volta a dizer: Que dali se pode fazer,
Como um sonho, que ela teve, Cidade para crescer
À roda do tremoceiro, que maior amigo não vira.
Logo ali se dão as mãos e o Chefe disse e dispôs:
Que a essa Terra de estremoços, lhe dê a criança nome,
E que a construção se faça, mais depressa do que a graça,
Hoje o tremoceiro estremoso, deu, por consenso, Estremoz.
Foral o terceiro Afonso, nosso Rei, lhe concedeu,
E o tremoço é alimento, que no Alentejo faz gosto,
E há flores brancas e azuladas, onde a Cidade nasceu,
E os homens ganham o pão com o suor do seu rosto.
Carlos A.N. Rodrigues,12 / 04 / 2013
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