“ A LENDA DA MAIA “
Nos vinhedos e pomares, havia mondas e regas,
Eclodia o mês de Maio,tempo da enxertia certa,
Por tudo o que era terra, quando das águas liberta
A mulher do Mestre Chico deu à luz,rogando pragas
Ao marido que, cansado, corria por um atalho,
Para não chegar atrasado ao nascimento da cria,
Que esperava bem fosse macho, pois ainda nem sabia
Que menina estranha e fraquinha é que era já sua filha.
Tinha um rosto pequenino e sorria angelical,
O que não era normal, pois mal havia nascido,
Já lhes estendia os bracinhos e um perfume era sentido
E uma música se ouvia, de teor celestial.
- Não é daqui esta criança – diz logo o pai ao prior
- Deus nos valha, é irreal – especial será – diz o pároco,
Já pensando no Baptismo – é uma bênção, Chico, estás louco ?
Pois nem tão pouco vês que te cumpre agradecer
Este hálito de flor fresca, esta música harpejada,
Dá graças aos céus, por tua filha, homem do diabo,
Dar-te-ei certificado, logo após o baptizado
E mais vos digo, esta menina é isenta de pecado,
Traz os encantos de Maio, pois que nesse mês nasceu,
- Dela se rirão, Padre, por ser assim tão diferente
- Diz o Mestre vinhateiro, baixinho, timidamente,
Ademais sendo fracota, quando um rapaz ele pediu,
No campo não a metia, mas já que tinha de ser…
Tão bem a havia de querer como se macho fosse;
Só que para a proteger a fechou até aos doze,
Em casa, chamando Maia à flor, que não deixaria abrir,
Para que dela não se rissem, na rua não a veriam,
E ela sofria e eles diziam ser ainda muito nova
Para andar lá por fora, porque cruel era o povo,
Dela fariam troça, decerto a importunariam
Cães e gente curiosa, que notas até ouviam
Os que passavam à porta e ali esperavam horas,
P’lo cheiro a flores que saía, de dentro dela p’ra fora,
Mal seus pais se sentiriam, temendo o que já sabiam:
Que pelas ruas se dizia que Maia era tão formosa
Que o pai a prendera em casa, com receio que vissem outros
A angelical criatura, que não saía da ostra
E nem sequer saberia de que cor era uma rosa.
Tarde investiga o Cura o estranho procedimento
E aos pais de Maia interroga, com dura disposição:
-Sois assim tão idiotas, como eu penso, ou mais serão ?
Contrapõe Chico, sem medo: Nossa culpa vos isenta ?...
-Julgais falar com razão, mas eu não admito chacota:
Minha filha é uma flor, seus olhos são duas pérolas,
Ai de quem lhe ponha a mão ou um só dedo nas pétalas
( A mãe soluça engasgada, sorri a filha com a anedota )
Logo se solta um cheirinho que p’lo templo se espalha,
Sobe a música celeste, Maia é uma flor terrestre,
Mas para o Povo é um anjo, cego é o Chico Mestre
E casmurro, mas já cede e agradece:Deus nos valha,
Maia é a poalha d’ouro que das estrelas cai na terra,
É o perfume da Serra, é cor que nunca esmorece,
É a música dos astros, é tudo o que nos aquece;
- Liberta-a, então, Chico Mestre, e põe fim a esta guerra
- Diz o Pároco, por seu turno, que prisão é para gatuno,
- E tua filha é a alma de que esta terra precisa,
Já vês como o povo a adora e os seus cabelos alisa,
Deixa - a passear pelos Jardins que o momento é oportuno.
E assim passou a estranheza, subiu a admiração,
Pelo perfume de um sorriso, pela música da Maia,
Flor pequena que ainda cresce, no campo, com tal encanto,
Que o povo solidário à terra chamou Damaia.
Sem prejuízo de outras tantas que, fora da Capital,
Reclamam, tal e qual, seu direito sobre as maias,
Flores, giestas, que tão belas, nos crescem de Norte a Sul,
Maias são também crianças, que pedem pelo mês de Maio.
Carlos A.N. Rodrigues, 23 / 04 / 2013
Nos vinhedos e pomares, havia mondas e regas,
Eclodia o mês de Maio,tempo da enxertia certa,
Por tudo o que era terra, quando das águas liberta
A mulher do Mestre Chico deu à luz,rogando pragas
Ao marido que, cansado, corria por um atalho,
Para não chegar atrasado ao nascimento da cria,
Que esperava bem fosse macho, pois ainda nem sabia
Que menina estranha e fraquinha é que era já sua filha.
Tinha um rosto pequenino e sorria angelical,
O que não era normal, pois mal havia nascido,
Já lhes estendia os bracinhos e um perfume era sentido
E uma música se ouvia, de teor celestial.
- Não é daqui esta criança – diz logo o pai ao prior
- Deus nos valha, é irreal – especial será – diz o pároco,
Já pensando no Baptismo – é uma bênção, Chico, estás louco ?
Pois nem tão pouco vês que te cumpre agradecer
Este hálito de flor fresca, esta música harpejada,
Dá graças aos céus, por tua filha, homem do diabo,
Dar-te-ei certificado, logo após o baptizado
E mais vos digo, esta menina é isenta de pecado,
Traz os encantos de Maio, pois que nesse mês nasceu,
- Dela se rirão, Padre, por ser assim tão diferente
- Diz o Mestre vinhateiro, baixinho, timidamente,
Ademais sendo fracota, quando um rapaz ele pediu,
No campo não a metia, mas já que tinha de ser…
Tão bem a havia de querer como se macho fosse;
Só que para a proteger a fechou até aos doze,
Em casa, chamando Maia à flor, que não deixaria abrir,
Para que dela não se rissem, na rua não a veriam,
E ela sofria e eles diziam ser ainda muito nova
Para andar lá por fora, porque cruel era o povo,
Dela fariam troça, decerto a importunariam
Cães e gente curiosa, que notas até ouviam
Os que passavam à porta e ali esperavam horas,
P’lo cheiro a flores que saía, de dentro dela p’ra fora,
Mal seus pais se sentiriam, temendo o que já sabiam:
Que pelas ruas se dizia que Maia era tão formosa
Que o pai a prendera em casa, com receio que vissem outros
A angelical criatura, que não saía da ostra
E nem sequer saberia de que cor era uma rosa.
Tarde investiga o Cura o estranho procedimento
E aos pais de Maia interroga, com dura disposição:
-Sois assim tão idiotas, como eu penso, ou mais serão ?
Contrapõe Chico, sem medo: Nossa culpa vos isenta ?...
-Julgais falar com razão, mas eu não admito chacota:
Minha filha é uma flor, seus olhos são duas pérolas,
Ai de quem lhe ponha a mão ou um só dedo nas pétalas
( A mãe soluça engasgada, sorri a filha com a anedota )
Logo se solta um cheirinho que p’lo templo se espalha,
Sobe a música celeste, Maia é uma flor terrestre,
Mas para o Povo é um anjo, cego é o Chico Mestre
E casmurro, mas já cede e agradece:Deus nos valha,
Maia é a poalha d’ouro que das estrelas cai na terra,
É o perfume da Serra, é cor que nunca esmorece,
É a música dos astros, é tudo o que nos aquece;
- Liberta-a, então, Chico Mestre, e põe fim a esta guerra
- Diz o Pároco, por seu turno, que prisão é para gatuno,
- E tua filha é a alma de que esta terra precisa,
Já vês como o povo a adora e os seus cabelos alisa,
Deixa - a passear pelos Jardins que o momento é oportuno.
E assim passou a estranheza, subiu a admiração,
Pelo perfume de um sorriso, pela música da Maia,
Flor pequena que ainda cresce, no campo, com tal encanto,
Que o povo solidário à terra chamou Damaia.
Sem prejuízo de outras tantas que, fora da Capital,
Reclamam, tal e qual, seu direito sobre as maias,
Flores, giestas, que tão belas, nos crescem de Norte a Sul,
Maias são também crianças, que pedem pelo mês de Maio.
Carlos A.N. Rodrigues, 23 / 04 / 2013
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