“ OS SETE AIS DE ANASIR “
Secreto era o passadiço,mais ainda o coração
De Anasir, Moura Princesa, que procura uma saída,
Vai com ela sua sombra e Aia por condição,
Zulmira tem por missão salvá-la do fim da vida.
Já mandou AfonsoHenriques, seu emissário leal,
Preparar boa chegada a seus Cruzados e tendas,
Ver se mouros ainda teimam nesse Castelo local
Ou, por sua ordem, já foram daí para fora de Xentra.
Mendo se chamaria o que à Serra foi enviado,
Pode estar certo ou errado, seu nome, mas o que importa
É que Anasir ele encontra, pondo-a a salvo dos soldados,
Já os cascos dos cavalos ecoam fora de portas.
Lisboa é tema encerrado, tomada que foi, de fresco,
Xentra é fácil de tomar, mas se El Rei que,com certeza,
A Princesa pouparia, não o faria a soldadesca…
Por tal mandaria Mendo, pois sabe usar a cabeça,
Mas o coração mais manda, tanto que logo se encandeia
Ao ver Moura na passada, por onde passa, por acaso,
Já com fuga adiantada ia Anasir com a velha Aia,
O mais certo era dar raia, se ele não se ocupa do caso…
De susto solta ela um Ai !... tem a Aia um estremecimento,
Chegam-lhes vozes com o vento, não estão longe do caminho
Secreto, como o olhar que Anasir troca com Mendo,
Quer este levar a Ama,deixando a Aia sozinha,
Ao que a Princesa se opõe, pois sem Zulmira não monta,
Tapa, entrementes, o rosto – soltando um segundo Ai,
Compondo o véu que esqueceu, de novo a velha se espanta;
Alzira irá com Dom Mendo, em outro cavalo a Aia.
Depressa - clama o Cavaleiro - a tropa já aí vem,
Aqui outra interjeição, mais a Aia preocupa,
Que quase cai da montada ao ouvir o terceiro Ai,
A razão, se a tem,esconde, mas é mal que a perturba.
Já em Terreiro seguro, de casa bem abrigada,
Que ao Cavaleiro pertence, confessa a Aia a Dom Mendo,
Que ao nascer a sua Ama, uma praga lhe foi rogada
E ao final de sete Ais não estará mais neste mundo.
- Não solte ela mais nenhum… ( mais três na alcova há de dar
Pensará o cavaleiro, que o seu amor quer inteiro),
Diz a Aia que Aben - Abed, foi o primeiro a chegar
E por Alisa há de voltar para as contas ajustar.
Mas a radiosa Princesa,nem sequer conta os seus Ais,
Ao outro chama cobarde, pois que fugiu e a perdeu,
Já abraçada ao Cavaleiro, é a mais feliz das mortais,
Só para lhe agradar promete não soltar mais nenhum Ai,
Nem vê que assim o repete e o quinto já aí vem,
Não o consegue controlar: Ai, como odeio, meu amor,
O maldito Aben - Abed, que me há de matar, bem sei,
Pois Mouro jámais perdoa as fraquezas da mulher
E ora me fui apaixonar por cristão, em seu lugar ;
Mas logo alegra o falar: Dizei-me, senhor, achais
Vós normal ter Zulmira este temor por meus Ais ?...
A Aia chora em silêncio, teme o último dos tais,
Com este já lá vão seis, Mendo tem de lhe dizer
A verdade, mas eis que lhe chega ordem urgente,
Do Rei com outra missão e Mendo tem de partir,
Sorve o perfume de Alisa, que aqui lhe diz tristemente:
Por amor vos esperarei, sentada neste penedo,
Meu olhos vos seguirão até ao fim do caminho,
Muito para além da razão, cumprireis vosso destino,
Eu, por mim, não sinto medo do que já nem é segredo.
Mas o que a Aia teme, mais lesto será cumprido,
Sete dias são passados quando chega Aben Abed,
Sai – lhe Zulmira, ao caminho, logo ali é degolada,
Solta Alisa o sétimo Ai, já com o peito rasgado.
Clama Aben Abed,exaltado: O que é meu sempre há de ser !
Ouve-se o eco ao sol pôr e há fogo no horizonte;
Tarde voltará Dom Mendo, já nada pode fazer,
Perdido e louco de amor, Alisa chora para sempre,
O mouro há de perseguir até… sei lá, nunca mais,
Esperou Alzira ao luar, ver Mendo, mas só viu estrelas,
Mas é por via dos sete Ais, que ele chama à terra Seteais,
Na Serra que foi da Lua, o luar vela por ela,
E há nuvens que calam baixo, ciúmes e amores das lendas,
E as giestas, com seus ramos, varrem sonhos, sumaúma,
O sol dispersa os queixumes, pinhas caídas são prendas,
Dizem que um raro perfume, sopra entre a seiva e a caruma.
Carlos A.N.Rodrigues, 15 / 04 / 2013
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