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quarta-feira, 17 de abril de 2013

Maria Emília - Porto 1920.01.04 / Poceirão 2013.04.17

Maria Emília

17 de Abril de 2013 às 14:23
Maria Emília - Porto 1920.01.04 / Poceirão 2013.04.17
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O LUGAR DA CASA...

Uma casa que fosse um areal deserto;
que nem casa fosse;
só um lugar onde o lume foi aceso,
e à sua roda se sentou a alegria;
e aqueceu as mãos;
 e partiu porque tinha um destino;
coisa simples e pouca, mas destino
crescer como árvore,
resistir ao vento, ao rigor da invernia,
e certa manhã sentir os passos de abril ou, quem sabe?,
a floração dos ramos, que pareciam secos,
e de novo estremecem
com o repentino canto da cotovia

Eugénio de Andrade
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Poema à Mãe

No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe

Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos.

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
   que apertava junto ao coração
   no retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
   ficou enorme, mãe!

Olha — queres ouvir-me? —
 às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;

ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;
ainda oiço a tua voz:    
    
Era uma vez uma princesa          
no meio de um laranjal...

Mas — tu sabes — a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber,

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.

Boa noite.
Eu vou com as aves.


Eugénio de Andrade, in "Os Amantes Sem Dinheiro"
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Foto Rui Pedro
Foto Rui Pedro

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