A MORADA DE EROS (II)
Na boca da onda o teu corpo cavalga suspiros ao ritmo das coxas depois exausta de espumas moldavas côncavos em dunas quentes com a forma dos teus seios frescos e juntos voltávamos a imprimir na areia deserta os sinais vivos salgados dos teus lábios rubros como se do primeiro gosto se tratasse A virgindade de um Poema é intransmissível abre-se e fecha-se cala-se grita cisma espasmos luminosos na pedra branca até ao prumo do mastro que rompe o silêncio das auroras é preciso aprofundar a certeza dos gestos imprevisíveis humedecer os extremos do sonho até ao instante tenso dos membros e da língua sentir os músculos do dia partindo do esforço arqueológico dos ossos para o mastro lúcido que resolve num olhar o mistério do corpo animado e do lugar sem pressa prazo ou propósito outro que não o rasgar lento mas decidido do hímen do momento que oculta e embaraça a sexualidade das palavras até à explosão inevitável do sémen da terra que volta à superfície redescobrindo o espaço livre de reticências e pontuação e se resolve amplexo solar reinventando porcelanas raras e estrelas que resistem à sua condição de pó porquanto incrustadas de cristais suados na pele dos amantes que amanhecem como ainda hoje me dizes como sempre nos dissemos sem saber que era aí a qualquer hora a morada natural de Eros na carne lavada de sentidos onde as águas se reacendem É por isso que trazes na íris cascatas de luar e raios refrescantes e todos os dias amanhecemos de novo na mesma morada sem termos entendido verdadeiramente a necessidade dos anúncios luminosos com quartos de alugar o amor à época com tanto espaço livre para descobrirmos que o tempo não existe.
Carlos A. N. Rodrigues - 2010
Sem comentários:
Enviar um comentário