Não é miragem,
É o musgo indiferente dos olhos
No silêncio do horizonte
Como aves naufragadas, sem sentido.
Lembra um mar desencabrestado,
Ondas bramindo o sigilo de sentimentos,
Inquietação beliscando faces
Sem usar palavras enérgicas, nem estilhaços,
Só os olhos, ventos enrolados, atiram lufadas de músicas dissonantes.
Sem encenação especial,
Sem indignação ou repulsa,
O poente desce, desce lentamente
Qual rosa a desfolhar-se sangrando em fim de tarde.
Nas janelas hipócritas dos olhos
Um sopro desértico de emoções.
Não há socos prenunciando a noite
Nem a madrugada cicatriza feridas .
Num lívido mar de decepções
Imagens que se evaporam por entre o anúncio luminoso da lua cheia.
Ciente de não mais vagas nem marés,
Suspensa de um tudo – nada,
Recorta o perfil dos olhos,
Enche a boca de morangos
( sumo doce fartando os lábios)
E porque tudo acontece ao mesmo tempo,
Numa dura linha horizontal,
Quando as sombras do estio andam perdidas,
E não se sabe onde encontra-las.
O musgo dos olhos atravessa o sono exausto.
Clara Roque Esteves ( maio de 2013)
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