As tuas palavras virão bater-me à porta
Um dia, ao cair da tarde.
A lua ainda não nos molha
Mas os teus passos leves,
Pé ante pé
Chegarão a esta casa
Cheia de tudo, vazia de ti.
O teu olhar, ainda magoado de azul
Percorre as linhas do meu corpo,
Conta em cada traço do meu rosto
Cada ano que passou.
Em cada ruga
Procuras ler as palavras
Que os meus olhos calam
E saborear o mel da minha boca.
Em cada frase que lês
Estou eu e tu em sobressalto
Esquecendo os cães que as nossas mãos alimentaram
E traiçoeiramente nos morderam às escuras.
Estou eu e tu em sobressalto,
Derrubando pontes,
Pacificando os lugares onde nos apartámos vezes sem conta,
Homem e mulher de corações divididos.
Então
Acordaremos deste pesadelo
E deixaremos que a morte passe ao lado.
Eu preciso de ti, tu precisas de mim.
Agora, já, bate-me à porta!
A lua, ainda inacabada,
Já derrama luz no chão da minha rua...
Tu bates-me à porta
A noite acorda e nós
Celebramos as nossas primaveras.
Clara Roque Esteves ( Lisboa, 2007)
Sem comentários:
Enviar um comentário