“ FRAGAS DA SAUDADE “
De quantos Penedos da Saudade nos fala a Terra ?
Quantos Poetas cantaram o eco das pedras
Que o Povo traz na alma ? Quantas o tempo carrega
Em seus ombros, do litoral ao pico da Serra ?
Direi hoje de São Pedro de Moel uma outra lenda,
Eco difuso que me chega, lamento que pressinto,
De Dona Juliana derramando lágrimas lentas,
Suspirando pelas fragas, vagas de espuma e vento
Sigo o trilho do canto que me salta ao caminho
E se espraia, daqui, à Praia da Concha e até ao Farol
Que entontece o olhar ardente dos Duques de Caminha;
Juliana, então feliz, nem dá que já se esconde o sol,
Abraça seu Consorte D. Miguel Luís de Meneses,
Confessa-lhe, porém, que sonhos estranhos tem tido
- Pesadelos, meu amor, todos temos, às vezes …
- Diz Luís – mas afinal que temes tu, fazes segredo ?
Mas já, respeitosamente, um criado se apresenta:
- Vosso pai, o Senhor Marquês de Vila Real, está aqui
E vos quer, a sós, falar, dizendo ser urgente;
Estremece Juliana, Dom Luís a manda quedar-se ali,
Não obstante o pedido de seu pai, que a abomina,
Acusando a nora de a seu filho privar de animo
Para combater o Rei, como urge e como tal se plana,
Entre conjurados, que a D.João IV acusam de tirano,
Gente de alta virtude, que a meia boca, nomeia:
O Arcebispo - primax, seu pai o Conde de Armamar,
Dom Agostinho Manuel de Vasconcelos, tem na ideia,
Eu próprio e tu, meu filho, que te estou a convocar,
Ao que, como Segundo Conde de Caminha, bem sabes,
Não podes recusar, sem nossa honra manchares,
A não ser que, como Pilatos, daí as tuas mãos laves,
Traindo teu pai, para a tua mulher agradares.
- Ó meu Deus, salvai – o ! roga Juliana, amargurada
E sai, sabendo que jamais Miguel seu pai há de trair
E ele, com o coração despedaçado, concorda
Com o que não quer, mas não pode deixar de concordar.
E, aqui, se confirma, o pesadelo de Juliana,
A Conjura é apanhada pelo poder, em falso,
Dom Miguel, entre o amor e o dever, assim se engana
Que a escolha, se é que existe, vai dar ao cadafalso.
Em vão protesta, em carta ao Rei, sua inocência,
Que só por dever filial em tal acto se enredou,
Não atende o Rei ao escrito, que rasga com indiferença,
Se com pena o escreveu, com espada conspirou…
A própria Juliana apela à clemência real,
Jurando a inocência de Miguel Luís de Meneses,
Acreditando que o amor é salva vidas, imortal,
Mas o Rei na terra tem mais poder que os deuses.
- Bem sei aquilo que posso e o que faço – diz o Rei,
Aceito tua lisonja, mas Justiça há de ser feita,
Na terra antes do céu, minha palavra é Lei,
E a decisão está tomada, sai da Corte, tenho dito.
Já lá fora a multidão exaltada apupa os conjurados,
Mas poupa os gritos a D. Luís, que sabem inocente;
O Povo o respeita, mas nada faz contra os soldados,
Que o Rei mandou afastar do cadafalso tanta gente.
Do resto conta-nos Raimunda e o mar, sua Saudade,
- Miguel, meu amor, mais não te vejo nos meus braços -
- Canta ela no vento – Nunca mais te beijo, de verdade,
Fico a esta saudade de pedra, amarrada, sem teus laços,
Triste, salgada, por tanta lágrima derramada,
Ainda aqui estou, sem graça, neste canto sentada,
Eco de um amor sufocado, Poema cortado,
Onde apenas rima, com Saudade, esta rocha calada.
Carlos A.N. Rodrigues, 12 / 05 / 2012
De quantos Penedos da Saudade nos fala a Terra ?
Quantos Poetas cantaram o eco das pedras
Que o Povo traz na alma ? Quantas o tempo carrega
Em seus ombros, do litoral ao pico da Serra ?
Direi hoje de São Pedro de Moel uma outra lenda,
Eco difuso que me chega, lamento que pressinto,
De Dona Juliana derramando lágrimas lentas,
Suspirando pelas fragas, vagas de espuma e vento
Sigo o trilho do canto que me salta ao caminho
E se espraia, daqui, à Praia da Concha e até ao Farol
Que entontece o olhar ardente dos Duques de Caminha;
Juliana, então feliz, nem dá que já se esconde o sol,
Abraça seu Consorte D. Miguel Luís de Meneses,
Confessa-lhe, porém, que sonhos estranhos tem tido
- Pesadelos, meu amor, todos temos, às vezes …
- Diz Luís – mas afinal que temes tu, fazes segredo ?
Mas já, respeitosamente, um criado se apresenta:
- Vosso pai, o Senhor Marquês de Vila Real, está aqui
E vos quer, a sós, falar, dizendo ser urgente;
Estremece Juliana, Dom Luís a manda quedar-se ali,
Não obstante o pedido de seu pai, que a abomina,
Acusando a nora de a seu filho privar de animo
Para combater o Rei, como urge e como tal se plana,
Entre conjurados, que a D.João IV acusam de tirano,
Gente de alta virtude, que a meia boca, nomeia:
O Arcebispo - primax, seu pai o Conde de Armamar,
Dom Agostinho Manuel de Vasconcelos, tem na ideia,
Eu próprio e tu, meu filho, que te estou a convocar,
Ao que, como Segundo Conde de Caminha, bem sabes,
Não podes recusar, sem nossa honra manchares,
A não ser que, como Pilatos, daí as tuas mãos laves,
Traindo teu pai, para a tua mulher agradares.
- Ó meu Deus, salvai – o ! roga Juliana, amargurada
E sai, sabendo que jamais Miguel seu pai há de trair
E ele, com o coração despedaçado, concorda
Com o que não quer, mas não pode deixar de concordar.
E, aqui, se confirma, o pesadelo de Juliana,
A Conjura é apanhada pelo poder, em falso,
Dom Miguel, entre o amor e o dever, assim se engana
Que a escolha, se é que existe, vai dar ao cadafalso.
Em vão protesta, em carta ao Rei, sua inocência,
Que só por dever filial em tal acto se enredou,
Não atende o Rei ao escrito, que rasga com indiferença,
Se com pena o escreveu, com espada conspirou…
A própria Juliana apela à clemência real,
Jurando a inocência de Miguel Luís de Meneses,
Acreditando que o amor é salva vidas, imortal,
Mas o Rei na terra tem mais poder que os deuses.
- Bem sei aquilo que posso e o que faço – diz o Rei,
Aceito tua lisonja, mas Justiça há de ser feita,
Na terra antes do céu, minha palavra é Lei,
E a decisão está tomada, sai da Corte, tenho dito.
Já lá fora a multidão exaltada apupa os conjurados,
Mas poupa os gritos a D. Luís, que sabem inocente;
O Povo o respeita, mas nada faz contra os soldados,
Que o Rei mandou afastar do cadafalso tanta gente.
Do resto conta-nos Raimunda e o mar, sua Saudade,
- Miguel, meu amor, mais não te vejo nos meus braços -
- Canta ela no vento – Nunca mais te beijo, de verdade,
Fico a esta saudade de pedra, amarrada, sem teus laços,
Triste, salgada, por tanta lágrima derramada,
Ainda aqui estou, sem graça, neste canto sentada,
Eco de um amor sufocado, Poema cortado,
Onde apenas rima, com Saudade, esta rocha calada.
Carlos A.N. Rodrigues, 12 / 05 / 2012
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