A água tomou conta de tudo à minha volta. Chove dentro e fora da janela, chove dentro dos meus braços impedindo-me de voar. Boiando pela casa, barcos destroçados de velas rotas, deixam entrar a dor de não ter um mar.
Quero libertar-me desta luz triste que se apega aos ossos, sentir o cheiro das flores de amendoeira nos quintais, mas os deuses não permitem que floresçam… ecos dum tempo que não vivi enchem-me a memória, tento aprisionar os melros que passam em fugidios voos para que pintem com o seu canto a casa em que alicerço o meu sonho…
Semeio então na paisagem flamingos rosados, limícolas de bicos laboriosos, corvos marinhos de asas azuis e garças de colos altivos. Construo uma jangada de sonhos anilados e numa linha em V navego para o sul e para a luz neste fim de tarde onde mastros e flores se afogam nas águas…
maria jorgete teixeira
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