“ DA ÁGUA QUE BEBE DELA “
Isabel bordava sonhos,com desejos dentro dela
De laços que lhe subiam e enredavam no peito,
Por Peres de Trava,que amava, mas só via da janela,
Sua mão ele pediria, assim lhe dessem direito.
Isabel perdera a mãe e fora entregue à madrinha,
Que com seu pai a criara de uma forma um tanto fria;
Dona Ximenes tem por cisma intenção assaz daninha:
Casá-la com Dom Raimundo,do qual se sabe ser tia.
Astuta, diz a Isabel,com bem estudada euforia,
Que é chegado o dia de seu pretendente ouvir,
Crescem asas na afilhada, não esconde sua alegria:
- Hoje mesmo ao meu eleito pedirei para cá vir;
Apresentará seu pedido, o Conde Pedro de Trava,
- Tu estás louca, rapariga, ou falas só para te ouvires ?
Quem foi que te autorizou a contrapor tal entrave
À decisão já tomada de com meu sobrinho casares ?
Hei de falar com meu pai, a senhora está errada
- Clama Isabel, destroçada - sai Ximenes de rompante
- És ingrata e insolente,espera-lhe pela pancada…
Chama Isabel Juliana, seu anjo em forma de gente,
Sua Dama de Companhia, o que Amiga subentende:
- Queres que te leve recado aos do Castelo de Trava ?
- Ao jovem Pedro direis que aqui esteja ao sol nascente,
Para me pedir a meu pai, se não ainda outro me leva.
Toda a noite não dormiu e até pediu aos céus
Que se apagasse o luar, para o sol se levantar,
Lá fora cascos ouviu e o som reconheceu,
Era o cavalo de Pedro, se é que não estava a sonhar.
Bate seu pai, prazenteiro, à porta que está trancada,
Por fora, mas não comenta e com chave própria entra,
- Aqui algo está errado, mas quero-te ver animada,
Minha filha, cá me esperam dois jovens teus pretendentes.
E, enquanto a informa, ri, satisfeito, com seu plano,
Que Isabel sabe ser prova que Pedro não esperaria,
Ou seu pai sabe o que faz ou quer levar ao engano,
Por conselho de Ximenes,o que Isabel escolheria,
Montada está a armadilha,que Isabel aflige:
A um cabe, por tarefa, trazer água da levada,
Ao outro seu pai exige montar a cúpula da Igreja,
O primeiro a terminar terá noivado garantido.
Desolada Beatriz, diz que o teste vem fisgado
Por Ximenes, para que ganhe seu sobrinho,
( Que é mole e aparvalhado, mas traz dote apetecido )
Trazer água da levada não é coisa doutro mundo,
Não será pois, por acaso, que tal coube a Dom Raimundo,
Já o impossível é destinado ao amor de sua vida,
Mas Pedro não hesita nem um mínimo segundo,
Essa cúpula há de montar, de uma forma decidida.
Ora nas lajes prostrado o reforçam suas preces,
Ergue-a por força divina, já Raimundo se entontece
De tanta facilidade, vai à levada e adormece
Segue a tia em seu encalço, mas quando acorda já é tarde:
- Vede como corre a água, minha tia - diz Raimundo,
Dentro em pouco chegará junto à minha prometida…
- Pois beba dela, sua besta, que a cúpula já está montada !...
E hoje se a água turva vai o Povo mais a fundo:
“Raimundo que beba dela “, onde melhor lhe calhe,
Ou cerca da Capital ou em São Romão está ela,
Em Oliveira do Hospital ou em São João da Talha,
A água que foi levada, não chegou à Bobadela !
Carlos A.N.Rodrigues, 03 / 05 / 2012
Isabel bordava sonhos,com desejos dentro dela
De laços que lhe subiam e enredavam no peito,
Por Peres de Trava,que amava, mas só via da janela,
Sua mão ele pediria, assim lhe dessem direito.
Isabel perdera a mãe e fora entregue à madrinha,
Que com seu pai a criara de uma forma um tanto fria;
Dona Ximenes tem por cisma intenção assaz daninha:
Casá-la com Dom Raimundo,do qual se sabe ser tia.
Astuta, diz a Isabel,com bem estudada euforia,
Que é chegado o dia de seu pretendente ouvir,
Crescem asas na afilhada, não esconde sua alegria:
- Hoje mesmo ao meu eleito pedirei para cá vir;
Apresentará seu pedido, o Conde Pedro de Trava,
- Tu estás louca, rapariga, ou falas só para te ouvires ?
Quem foi que te autorizou a contrapor tal entrave
À decisão já tomada de com meu sobrinho casares ?
Hei de falar com meu pai, a senhora está errada
- Clama Isabel, destroçada - sai Ximenes de rompante
- És ingrata e insolente,espera-lhe pela pancada…
Chama Isabel Juliana, seu anjo em forma de gente,
Sua Dama de Companhia, o que Amiga subentende:
- Queres que te leve recado aos do Castelo de Trava ?
- Ao jovem Pedro direis que aqui esteja ao sol nascente,
Para me pedir a meu pai, se não ainda outro me leva.
Toda a noite não dormiu e até pediu aos céus
Que se apagasse o luar, para o sol se levantar,
Lá fora cascos ouviu e o som reconheceu,
Era o cavalo de Pedro, se é que não estava a sonhar.
Bate seu pai, prazenteiro, à porta que está trancada,
Por fora, mas não comenta e com chave própria entra,
- Aqui algo está errado, mas quero-te ver animada,
Minha filha, cá me esperam dois jovens teus pretendentes.
E, enquanto a informa, ri, satisfeito, com seu plano,
Que Isabel sabe ser prova que Pedro não esperaria,
Ou seu pai sabe o que faz ou quer levar ao engano,
Por conselho de Ximenes,o que Isabel escolheria,
Montada está a armadilha,que Isabel aflige:
A um cabe, por tarefa, trazer água da levada,
Ao outro seu pai exige montar a cúpula da Igreja,
O primeiro a terminar terá noivado garantido.
Desolada Beatriz, diz que o teste vem fisgado
Por Ximenes, para que ganhe seu sobrinho,
( Que é mole e aparvalhado, mas traz dote apetecido )
Trazer água da levada não é coisa doutro mundo,
Não será pois, por acaso, que tal coube a Dom Raimundo,
Já o impossível é destinado ao amor de sua vida,
Mas Pedro não hesita nem um mínimo segundo,
Essa cúpula há de montar, de uma forma decidida.
Ora nas lajes prostrado o reforçam suas preces,
Ergue-a por força divina, já Raimundo se entontece
De tanta facilidade, vai à levada e adormece
Segue a tia em seu encalço, mas quando acorda já é tarde:
- Vede como corre a água, minha tia - diz Raimundo,
Dentro em pouco chegará junto à minha prometida…
- Pois beba dela, sua besta, que a cúpula já está montada !...
E hoje se a água turva vai o Povo mais a fundo:
“Raimundo que beba dela “, onde melhor lhe calhe,
Ou cerca da Capital ou em São Romão está ela,
Em Oliveira do Hospital ou em São João da Talha,
A água que foi levada, não chegou à Bobadela !
Carlos A.N.Rodrigues, 03 / 05 / 2012
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