UM HINO À CIDADE
Ai esse corpo cidade que a cidade vai abrindo
Esse corpo de ansiedade nas vidas que vão florindo...
Ai esse corpo violado que se esgueira pelas vielas
Esse corpo mal tratado nos corpos deles e delas...
Ai esse corpo almofada sem atavios riqueza
Corpo de pedra lavrada, corpo de vida burguesa...
Ai esse corpo cidade com traineiras na lonjura
Sempre manhã, sempre tarde, nos braços da noite escura...
Ai esse corpo doçura no amor de quem lhe quer
Esse corpo dedilhado, como guitarra-mulher...
Ai esse corpo de espanto desta cidade brumosa
Todo riso, todo pranto, todo amante ansiosa...
Ai cidade marginal do desespero dos dias
Cidade nobre e leal de muitas democracias...
Ai encanto de pintores, de poetas, doutros mais
De jardins cheios de cores, de tertulias ancestrais
És cidade toda Povo de manjerico na mão
E és Porto de igualdade em Noite de S.João!...
Maria Mamede
MEU PORTO
Quando a noite chega
Com seu manto negro
E tu emerges do rio
Liquidamente coroada de luzes
Meu coração acelera o compasso
E meus olhos, em êxtase
Fundem-se em ti...
Pairo
Gaivota em voo tardio
Sem norte e sem rota
Inebriada de luz
E poiso na areia...
Esqueço o ninho, a vida
E embalando o cansaço
Adormeço
Na espera dos primeiros alvores
Dum dia de verão!...
Maria Mamede
DESPINDO A ALMA
Eu dispo a minha alma
À tua frente
Num jeito despudor
De entrega feito
Que despir a minha alma
É o meu jeito
De mostrar e de pedir
Amor!
E dispo a alma
A alma somente
O corpo, é só um fato
Que vestimos
E quando amamos muito
Desistimos
De pensar nessa fato
Que esquecemos...
Apenas alma e lua
São divinas
Qualidades na mulher plena
E por isso
É que vale a pena
Despir a alma
E deixá-la nua
Aos raios de luar
E de verbena
E ao toque doutra alma
Como a tua!...
Maria Mamede
1 comentário:
Que posso eu dizer?
Obrigada Victor!
Bj
Maria Mamede
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