“ SEM MURAIS “
Paredes caladas ruínas tapumes
Escondem óxidos vermelhos
Ocres tristes lágrimas de grafite ,
Lapada seca não dá fruto
Às vezes a Arte renova o olhar
Dos muros velhos
Procuro na cal de um rosto
Notícias de última hora
As de ontem confirmam as de hoje
Reconstrução adiada por escrito.
Estatisticamente as perspetivas Natalícias
São muito inferiores às certezas mortais.
Contorno o edifício velho das palavras cimentadas
Em cada quarteirão em cada beco a cada esquina,
Haverá apesar de tudo um cheiro a maresia
Povo de navegadores que somos
Aproxime – se do mar quem puder
Ou recolha em última instância
O salitre no sangue das pedras
Em esforços coordenados
Que nos devolvam o horizonte
Para que tudo volte a ser o que nunca foi,
Para além do azul oculto nas cinzas
Há gaivotas calcinadas no olhar dos homens
E fósseis com dedos anteriores
Ligados para a ilusão do voo,
Perseguimos sonhos alados
Em vez de mergulhar mais fundo
Apalpamos sensações celestes ao lusco fusco
Com palavras empaladas nos muros da memória
É preciso desempenar o ar de poeiras
Ir mais longe e transformar um respirar antigo
Em olhos de água e sopros sonoros em luz
A insónia é uma espada dormente
Nunca conquistou noites construtivas
Ver mais do que o olhar
Ser o intruso dos limos
O pescador de marés novas
O investigador de vulcões mais fundos
O pintor a Spray dos silêncios gritados
O apagador de ardósias viciadas
O quebra - xistos da memória
O fragmentário e o fragmento
Reconstruir puzzles no corpo
Colar com a saliva verdes naturais
Em todas as estrelas por nascer
Abraçar curvas incendiadas
De sentimentos frescos
E gravitações por conceber
Ser o Big Bang das ruas
Retribuir Bons Dias com explosões de humor
Devolver a dignidade aos edifícios velhos
Com Implosões dignas de se ver
Que reconstruam tudo à prova de cismas
Com cimentos nunca ditos e gestos inoxidáveis
Espalhar o vírus do Amor pelas ruas abertas da Cidade
Do chão esboroado dos caboucos erguer falos de luz
E gemer o sexo da vida sem pudor até que tudo se renove
Até ao orgasmo nos sete seios da Cidade.
Quando partir, meus Filhos,
Quero estrumar colinas sem murais.
Carlos A.N. Rodrigues - 09 / 03 / 2011
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