Os portugueses dormem ou simplesmente voltam a cara para o lado? Dormem corpos e consciências?
Desvanecem-se os dias, descem noites de angústia suada. Este espectáculo macabro de explicações patéticas e teimosas enrola-me a alma com arame farpado. Confesso que me assaltam ganas de raiva mortífera. O desalento entra-me como bafo de nevoeiro em gélida noite de inverno. Cogitei toda a tarde que não posso resignar-me no mundo dos que dormem porque sinto uma imensa saudade de um futuro cerzido com ínfimas palavras doces.
Postada diante da montra de uma livraria amargou-me a imagem que o vidro me devolveu, pareceu-me mesmo que aquela mancha me era levemente familiar, tez pálida, rasgada por algumas rugas, olhos mortiços e cabelos também levemente enferrujados, como folhas de outono.
Por via de regra não choro, mas aquela figura triste ( quase patética) que o vidro me mostrou, espetou um punhal no meu coração. Por detrás do tempo doi-me e entristece-me a desgraça dos outros ( mais do que a minha), perturbam-me incertezas, estratégias de trafulhices, os compromissos obscuros, a desvalorização total do Ser Humano. E os meus olhos verdes mais parecem ondas antevendo naufrágio.
Clara Roque Esteves ( 17 deDezembro de 2012)
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