O teclado de uma velha pianola geme dolente na minha cabeça, enquanto as imagens se vão formando por dentro dos meus olhos. Como um caleidoscópio vão mudando, há pessoas que se movem e gesticulam, falam mas eu não as oiço, os meus ouvidos estão velados por uma espécie de gaze que se formou em sucessivas camadas, com o passar do tempo. No centro do palco estou eu, um laçarote imenso prende-me os cabelos e a minha avó tem a sua mão calejada e cheia de veias azuis sobre os meus ombros.
Sei que é Natal, embora na casa não existam nem árvore nem enfeites...o presépio ao canto, sobre a arca, lembra que um menino nasceu, lá longe, em terras da Judeia, onde havia um rei que "não gostava de crianças"...
Por dentro dos meus olhos estou eu, aquecida pelo bafo das palavras que não oiço, pela concha das mãos que me amparam quando cambaleante quase me estatelo no chão. Por dentro dos meus olhos há uma luz branca que quase cega e uma felicidade que me traz a paz.
Do lado de cá estou outra vez eu e a minha casa, onde o pinheiro enfeitado brilha estático e mudo. No meu natal há agora o silêncio das campainhas que tocavam e uma menina que ficou por dentro dos meus olhos...
Um Feliz Natal para todos !
Maria Jorgete
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