Victor Nogueira partilhou o estado de Maria Amélia Martins.
Quando se deu o 25 de Abril, eu não sabia nada de política. Mas sabia de comunistas, isto é, sabia aquilo que sobre eles me tinham metido na cabeça. Quando a conversa sobre comunistas já era outra, mesmo assim, só o nome, já trazia cargas do negativismo mais atroz, demoníaco, cruel, torturante ,aterrador...
Como?...aquelas mulheres bonitas que a televisão mostrava a serem libertadas das suas celas, eram...comunistas?????
Não era o facto delas estarem presas por via disso, que me surpreendia. Surprendia-me, isso sim, que mulheres cultas e bonitas iguais às melhores, fossem comunistas, tal era o conceito que eu tinha dessas pessoas...e porquê?...pois, eu a viver numa terrinha do distrito de Braga e oriunda duma família vulgar, onde se rezava o terço todos os dias antes de deitar,eu não era muito diferente das pastorinhas de Fátima, que sonhavam com a aparição duma nossa senhora, que lhes trouxesse alguma felicidade, tipo a graça duma santidade que nos transcendia e tinha o dom de nos deixar felizes até no sofrimento...
Que estranho tudo aquilo!!!
E no entanto, comunistas é que não, deus me livre, era o demónio, o preto, o cornudo do fogo do inferno, que comia criancinhas, violava as virgens, calcava as hóstias....
Não é exagero, não!...não estou a inventar nada, estava tudo na minha cabeça quando aconteceu o 25 de Abril...e eu já tinha quase 22 anos....
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