a Quinta-feira, 1 de Dezembro de 2011 às 18:26
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Ainda me lembro (como se fora hoje)
Da voz séria da minha mãe:
“ serás um potro indomável, selvagem”.
E as senhoras da sua idade,
Tomando o chá das cinco
( às quatro da tarde)
Imperturbáveis, acrescentavam:
“ Tem uns olhos e uns dentes lindos,
Que pena essa alma inquieta”…
Á minha volta parecia haver cobras
Enrolando uma melancolia selecta.
O jardim, soalheiro, era um purgatório.
Eu, ignorando a ironia,
Esgotado o respeito,
Não conseguia
Estar à altura do preceituado "velório"
E percebia que uma coisa me restava:
Cautelosamente rodava sobre mim,
Refugiava-me no meu castelo ( e só, sem jeito),
Bordava poesia.
Lá fora, as vozes crepitavam
Certificando a minha inteligência.
As minhas entranhas descaíam, crucificadas.
Eu mastigava o futuro (mudo na aparência)
A caminho de um abismo monótono, duro,
Irregular, desprovido de talento, mãos amordaçadas.
Não foi tudo iluminado, quieto. Não fui um prodígio,
Mas até este instante, hora estranha, noite calma
A barca do meu destino navega transparente, lúcida ( ???) e sem litígio na alma.
Clara Roque Esteves ( 1 de Dezembro de 2011)
Victor Nogueira Grato Clara Hesito entre a Mãe África de Alda Lara ou as Raízes. Deixo-te este últimohá 5 minutos · ·
(Alda Ferreira Pires Barreto de Lara Albuquerque. Benguela, Angola, 9.6.1930 - Cambambe, Angola, 30.1.1962). Era casada com o escritor Orlando Albuquerque. Muito nova veio para Lisboa onde concluiu o 7º ano do Liceu. Freqüentou as Faculdades de Medicina de Lisboa e Coimbra, licenciando-se por esta ú...há cerca de um minuto ·
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RAÍZES
............."Maianga Maianga
.............Bairro antigo e popular
.............Da velha Luanda
.............Com palmeiras ao luar ..."
.............''A Praia do Bispo
.............Cheiinha de graça
.............De manha á noite
.............Sorri a quem passa ..."
............(das Marchas Populares em Luanda)
Longo era o bairro ao longo da marginal
Longo era o bairro do morro de S. Miguel ao morro da Samba
Grande era o bairro e grandes as casas
No meio o bairro operário e a igreja de S.Joaquim,
estreitas as ruas, pequenas as casas.
Nas traseiras, o morro,
no alto o Palácio,
Na frente a larga avenida,
o paredão, as palmeiras e os coqueiros
a praia que já não era do Bispo
mas das pedras, dos limos e dos detritos.
Mais além a ilha que era península
com a sanzala dos pescadores
casas de colmo no areal
da extensa e boa praia
o mar sem fim.
Em Luanda nasci
Em Luanda vivi
Em Luanda estudei
Não Angola mas Portugal
Todos os rios e afluentes
Todas as linhas férreas e apeadeiros
Todas as cidades e vilas
Todos os reis e algumas batalhas
as plantas e animais
que não eram do meu país.
De Angola
pouco sabíamos
até ao 4 de Fevereiro, até ao 15 de Março
Veio a guerra e
....................a mentira
que alimenta
..................a Guerra,
Veio a guerra e a violência
veio a guerra e a liberdade.
Em Évora a 11 de Novembro
Em Luanda a bandeira do meu país
no mastro subiu.
Era o tempo da liberdade e da esperança.
No Porto
Em Lisboa
Em Évora estudei
Em Évora casei
Em Évora vivi e nasceram o Rui e a Susana.
Em Setúbal moro e no Barreiro trabalho
Perdidos os amigos,
perdida a infância
Estrangeiro ......sem raízes ......sou em Portugal.
Victor Nogueira
1989
Fotografia: "Trees, Western Beaches" de Ahmed Sirry - 1997
Presença Africana - Alda Lara
.
E apesar de tudo,
ainda sou a mesma!
Livre e esguia,
filha eterna de quanta rebeldia
me sagrou.
Mãe-África!
Mãe forte da floresta e do deserto,
ainda sou,
a irmã-mulher
de tudo o que em ti vibra
puro e incerto!...
- A dos coqueiros,
de cabeleiras verdes
e corpos arrojados
sobre o azul...
A do dendém
nascendo dos abraços
das palmeiras...
A do sol bom,
mordendo
o chão das Ingombotas...
A das acácias rubras,
salpicando de sangue as avenidas,
longas e floridas...
Sim!, ainda sou a mesma.
- A do amor transbordando
pelos carregadores do cais
suados e confusos,
pelos bairros imundos e dormentes
(Rua 11...Rua 11...)
pelos negros meninos
de barriga inchada
e olhos fundos...
Sem dores nem alegrias,
de tronco nu e musculoso,
a raça escreve a prumo,
a força destes dias...
E eu revendo ainda
e sempre, nela,
aquela
longa historia inconseqüente...
Terra!
Minha, eternamente...
Terra das acácias,
dos dongos,
dos cólios baloiçando,
mansamente... mansamente!...
Terra!
Ainda sou a mesma!
Ainda sou
a que num canto novo,
pura e livre,
me levanto,
ao aceno do teu Povo!...
(poemas)
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