a Sábado, 30 de Outubro de 2010 às 19:26
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Os dias de Outono chuvosos são assim, alguma coisa se ganha, a chuva faz falta, pois claro por muito que seja adoradora do sol não sou parva de todo e sei que faz falta, talvez também faça falta este conforto de estar em casa e parar um pouco, depois da espécie de corrida de estafetas que são os sábados de manhã, compras. Fruta, batatas, fiambre, pão, não gosto destas alfaces, queria miolo de noz e não há, batatas doces (fundamental nos Outonos), maçãs, o Outono também é o festim das maçãs, compras no carro, próxima etapa farmácia, uma chamada telefónica irresistível, vencemos os burocratas, é impossível não celebrar assim com palavras de amizade e contentamento pelos meninos, outra etapa, peixe, os tamboris feios mas saborosos estão rasgados na bancada com o fígado rosado á vista, não resisto, sim “Com o fígado por favor!”, do outro lado do telefone a parceira de muitas batalhas diz “Que horror Ana, o fígado!”, mas ela sabe que gosto, como não gosto de favas, falta ainda outra etapa depois de comprar o jornal de hoje que só vou ler talvez amanhã, dar colo á mãe, levar umas coisas trazer outras, um bocadinho de atenção, carregar as compras, arrumar, fiambre, azeite, peixe, descascar legumes para cozer, reservar parte do tamboril e o respectivo fígado para um arroz, deixar dois vasos de gerânios, vermelhos escuros e amarelos, para plantar depois, comer o peixe cozido, a travessa fica quase como um quadro, o peixe branco, a batata amarela, a cenoura laranja, os brócolos verdes, rodeados de azeite e sumo de limão.
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Arrumo coisas, estaciono no sofá, mais um momento de preguiça, vou ao computador abro mensagens, respondo, delicio-me com a nova descoberta musical, apaixonei-me por aquele tocar de piano, recebo o meu sobrinhito, vem feliz, enquanto converso descasco maçãs, daquelas de supermercado, sem cheiro, não amadurecem, envelhecem dentro da sua casca, coisa mais triste, murchar por dentro, eu cá não gostava, então lembro-me do Lavoisier, nada se perde tudo se transforma, a Professora Gabriela a explicar, aplico a lei às maçãs, transformo-as com açúcar e canela numa tarte, o açúcar e canela deve de ser o par mais bem sucedido na história do palato, dois sabores quentes que me sabem bem sempre, talvez porque saibam amadurecer sem envelhecer.
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Troco considerandos culinários e musicais neste espaço, acabo por prometer um chá de jasmim com tarte, a quem me fala de George Brassens, penso que aquelas maçãs apesar de maltratadas não foram colhidas em vão, porque no amor, na música, na amizade e no resto aplica-se o Lavoisier, nada se perde tudo se transforma.
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