a Segunda-feira, 18 de Outubro de 2010 às 23:30
“Quando o homem é maior que o chão que pisa não há limites para a ambição”.
É a minha última noite na cidade da mágoa. Há que ver um pouco mais para além da linha do horizonte: um homem não pode caber apenas no chão que lhe deram. Foi por isso que o meu País ficou maior que ele próprio e ganhou o tamanho da visão de um homem e de outros que lhe deram a mão. O meu País não acaba onde começa o medo, e se alguém inventou o mar para além do medo e fez de nós donos do mundo, não serei eu a deixar de crer até onde existir esperança, ambição e sentido de liberdade.
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Não aceito o cheiro de gritos congelados em rostos fechados, não recebo na alma o relento de ocupações de um pavor indefinido. Urge saber o nome e a ocupação de quem atiça gritos de velhas guerras longínquas, quando mantos de viuvez cobriam campos e vilas com uma dor muito calada que asfixiava sonhos no peito de cada um e de todos num silêncio amortalhado.
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Hoje, os jovens que abandonam a terra, não o fazem com o sentimento de desesperança das andorinhas quando pressentem o fim da primavera; hoje o mundo é uma mistura de ruídos metálicos, e a nossa paixão vai para além do pisar do chão da lua. A ambição do homem, hoje, vai muito para além do espaço que os seus sapatos ocupam, e já não há paragens distantes: O mundo está mesmo aqui ao lado e já não há juventudes amortalhadas em silêncios ou falta de ar. E não vale escutar vozes ocultas traficando desesperanças nas esquinas, cúmplices, pela calada das noites.
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Hoje, mais do que nunca, há que manter o lume aceso, mesmo quando ele esmorece na alma dos homens, há que soprá-lo com força, ramo a ramo, como quem passa a palavra para que, mesmo no fundo do buraco mais escuro, se mantenha viva a brasa da esperança.
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Longa foi a noite que vivemos muitos de nós, o amanhecer foi lindo, com as armas fizemos poesia numa madrugada leve, entusiasta, peculiar e fantasista de soldados dançando com o povo.
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Hoje, o que mais importa é não provocar desastres nos que navegam, não intoxicar gentes até ao desmaio, não demolir a beleza que ainda existe, como todas as tiranias tão bem sabem fazer.
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Hoje há que conhecer regras, definir limites, respeitar direitos, matar o pavor e, mais uma vez, navegar para além do medo. Um encontro mal marcado pode surpreender-nos mesmo ao virar da esquina e eu que já tentei ser muitas para escapar de mim, não quero surpreender-me vendo-me abraçada a um banco de nevoeiro a irromper do nada.
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Avança, Portugal!
Clara Roque Esteves
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Victor Nogueira
E o homem do leme, apesar de não estar nesse Kant_O e do Pessoa compartilha apenas o apelido Nogueira, cita
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"E disse:«Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse,... tremendo"
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de comoção:" grato pela tua presença nesta Clara madrugada em que o sol vai surgindo no horizonte avermelhando-se lntamente, para lá desta janela e através da qual te envio um alado bjo :-)Ver mais
há 8 minutos ·
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Victor Nogueira Comentário acompanhado por um hino
http://galeriaphotomaton.blogspot.com/2010/10/viva-maria-ds-fonte.html
há alguns segundos
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Hino à Maria da Fonte, uma mulher das bandas da Póvoa de Lanhoso, que desempenhou um papel activo na revolução que rebentou no Minho, em Maio de 1846, contra o governo de Costa Cabral.
u noutra toada
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"As sete mulheres do Minho" de Zeca Afonso. Albúm: "Fura-fura"
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