Berço
De África os saveiros a bailar na lua, os bichos a rondar as casas, a carne a secar em varais, o capim que esconde segredos.
As cubatas e as capulanas, funge nos dedos e bitacaia nos pés.
De Angola o vermelho, as acácias como línguas de sangue, as árvores possuídas por raios de fogo, o céu esbodegando-se em chuva.
A terra gretada, a imensidão das pradarias, as noites em poço de feitiços, a inocência dos primeiros beijos, o princípio do medo.
O calor que abafa num amplexo profundo, o abraço dos imbondeiros, a baía como seio cálido, o corpo deixando odores presos na areia.
O sol que anoitece de repente, mergulhando no mar, em ânsias de posse.
A lua menstruada, o amanhecer como quem beija depois de uma longa espera.
Da terra onde nasci o ritmo a infiltrar-se nas ancas, o cheiro a pitangas e a caju, o ocre, o grito da floresta e a liberdade.
Da minha terra mãe apenas flaches descontínuos.
E a saudade que morde, num apelo irresistível de voltar.
maria jorgete teixeira
imagem retirada à navegação.
Sem comentários:
Enviar um comentário