Take one
A cama era toda a casa.
O amor estendia-se no chão, demoradamente. Amavam-se contra as paredes, fuzilados pela submissão a um querer demolidor e insano, em cima das mesas em antropofagia desatinada, em equilíbrio difícil sobre os móveis, nos parapeitos das janelas, em corrimões inventados.
Amavam-se quando a saudade de si próprios, no enlaçar dos corpos, lhes era insuportável e os espelhos dos olhos embaciavam na ausência do outro.
No início tinham o sol nos olhos e a urgência nas mãos. As horas derramavam-se e derretiam-se como relógios de Dali, entorpecendo os corpos, para os fazer entrar em convulsões de fogo e chuva, estendidos em lençóis de magma e de cetim…
A cama estendia-se aos recantos encobertos, aos alpendres e jardins, a praias onde a sinfonia dos astros emudecia e se afogava dentro das bocas túrgidas.
E na melodia que faziam ao amar-se assim, é que nasciam as fontes onde se saciava a poesia. Era ao som da orquestra da pele, bocas, lábios, espadas e rosas que se desfazia o medo e as madrugadas nasciam limpas e novamente puras. E o céu refulgia de cometas por inventar. Não havia fronteiras, nem esteios e a bússola eram os dedos em constante descoberta.
jorgete teixeira
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