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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

João Valente Aguiar ~ “Digam à minha neta. Digam-lhe que ela tem razão! Um homem só não vale nada!”


27 January 2012

“Digam à minha neta. Digam-lhe que ela tem razão! Um homem só não vale nada!”

1. Existe um livro que lerias e relerias várias vezes?
Por razões profissionais e de trabalho, “O Capital” e ”A Ideologia Alemã” do Marx, “Class, self, culture” da minha amiga Bev Skeggs, “On the economic identification of social classes” e ”Class analysis and social research” do Carchedi, “The condition of postmodernity” do Harvey, “The making of the English working class” do Thompson. Em termos de literatura, retorno com facilidade à ”Pena Capital” do Cesariny, a ”Os passos em volta” do Herberto, a ”A invenção do amor” do Daniel Filipe ou à terceira parte de “Teatros do tempo” do Gusmão. Também “O Processo” do Kafka que já o li para aí umas dez vezes, “As vinhas da ira” e a “Seara de Vento”.
2. Existe algum livro que começaste a ler, paraste, recomeçaste, tentaste e tentaste e nunca conseguiste ler até ao fim?
Nisto partilho o ponto de vista do Eugénio de Andrade sobre o “Ulisses” do Joyce. Por motivos diferentes, as cerca de 200 páginas sobre a renda fundiária do terceiro livro de “O Capital”. Não sei porquê, talvez por ser um assunto menos relacionado com os meus interesses (se trabalhasse em Sociologia Urbana ou Rural talvez já as tivesse lido – mas a esmagadora maioria dos sociólogos do território acham que não precisam de compreender o capitalismo para estudar as dinâmicas urbanas…), mas como estava a dizer é a única parte daquele colosso que nunca consegui chegar ao fim.
3. Se escolhesses um livro para ler para o resto da tua vida, qual seria ele? 
Os que já li e os que ainda vou ler. E os que não vou ler… Se fosse um filme talvez as respostas fossem mais facéis: “Ran” do Kurosawa, “Couraçado Potemkine” do Eisenstein, “El viaje” do Fernando Solanas, “O carteiro de Pablo Neruda” ou a «dupla» ”Cinema Paradiso”/”Billy Elliot”.
4. Que livro gostarias de ter lido mas que, por algum motivo, nunca leste?
“Em busca do tempo perdido”, se bem que só recentemente consegui juntar os sete livros. Pode ser que no próximo ano consiga finalmente concretizar a leitura.
5. Que livro leste cuja “cena final” jamais conseguiste esquecer?
A cena final do “Seara de Vento” do Manuel da Fonseca. Das coisas mais cinematográficas que já vi/li li/vi (existe sempre uma imagem da palavra, sem isso quer dizer que se trata de uma imagem pura – e isso existe?). Um dos romances portugueses mais esquecidos. Para ser justo, um enorme romance injusta e incompreensivelmente esquecido.
O “Budapeste” do Chico Buarque também tem um bom desenlace e é um bom livro. O único bom livro do Chico. “Miguel Strogoff”, magistral.
6. Tinhas o hábito de ler quando eras criança? Se lias, qual era o tipo de leitura?
Quatro livros de uma História de Portugal em banda desenhada (as minhas prendas de natal nos meus sete e oito anos). Sem qualquer complexo, “Os Cinco” e “Uma Aventura”. E o livro que aos 15 anos me devolveu a leitura perdida por uns dois anos: “Vinte mil léguas submarinas” do Júlio Verne. Não sei se aos 16 anos ainda somos crianças, mas “O Hobbit” do Tolkien foi uma experiência maravilhosa, o contacto com um mundo completamente desconhecido. No verão seguinte a “Ana Karenina” do Tolstoi e ”Os Maias” do Eça mudaram a minha vida.
7. Qual o livro que achaste chato mas ainda assim leste até ao fim? Porquê?
Excepto os escritos de um certo sociólogo sobre o propósito teórico e político dele de reduzir os operários a coitadinhos indivíduos encorpados regados de bebida, sofrimento e muuuuiiiitttaaass citações iconoclastas do Bourdieu não me recordo de mais nada em especial. Portanto, só alguns livros e outros escritos na minha área de trabalho.
8. Indica alguns dos teus livros preferidos.
Literatura:
In random style, “O Velho e o Mar” (Hemingway), “As Vinhas da Ira” (Steinbeck), “Livro do Desassossego”, “O Processo”, “Germinal” (Zola), “Ana Karenina”, “Guerra e Paz”, “Crime e castigo” (Dostoievsky), “A Mãe”, “Seara de Vento”, “Finisterra”, “Uma abelha na chuva”, “Os passos em volta”, “Teatros do tempo”, “Obscuro domínio” do Eugénio, “A Metamorfose”, “O ano da morte de Ricardo Reis”, “Levantado do Chão”, “Todos os nomes”, “As intermitências da morte” (o último terço do livro é lindíssimo), a “Obra poética” do Ary, “Cantata”, “Sobre o lado esquerdo” e “Micropaisagens” do Carlos de Oliveira, “Esteiros” do Soeiro Pereira Gomes, “Sinais de Fogo” do Jorge de Sena, “O Amante de Lady Chatterley” do Lawrence, “A morte de Carlos Gardel” do Lobo Antunes, a escrita ululante e negra do Thom Yorke…
Ciências Sociais e afins:
Para além dos livros da área já enunciados na pergunta 1, vale a pena lembrar ”Trabalho assalariado e capital” do Marx (uma síntese magnífica do que é a exploração capitalista), “Political power and social classes” e “Fascism and dictatorship” do Poulantzas (as únicas coisas que valem a pena dele – e que valem muito), “Frontiers of political economy” do inevitável Carchedi, “Classes sociais nos campos” do João Ferreira de Almeida, “The consumption of mass” organizado pelo Rolland Munro, “Prosthetic culture” da Celia Lury, “Giving an account of oneself” da Judith Butler, as “Obras” do Lénine (se há autor em que uma obra faz pouco sentido se vista isoladamente num ou noutro escrito esse autor é o Lénine, aquilo é teoria sobre a acção e teoria-em-acção), algumas obras do Bettelheim sobre a União Soviética e o valor económico no socialismo, “Os labirintos do fascismo” do João Bernardo (apesar do mau-feitio dele e de não concordar com mais de metade do livro), “Mitologias” do Barthes…
9. Que livro estás a ler neste momento? 
Um livro muito bom e que recomendo vivamente para se compreender a actual situação económica portuguesa de um modo simples sem ser simplista e objectivo sem ser demasiado analítico, é o “Conversas de café” do Guilherme Statter. Também o “Trabalho e subjectividade” do Giovanni Alves, um livro muito bom para se compreender o capitalismo das últimas décadas. E depois muito material de trabalho onde só leio partes que me interessam.
Tenho visitado diária e aleatoriamente a “Poesia” do Eugénio e o “Ofício Cantante” do Herberto.
E a M. e a B. que provam que um ser humano tem sempre muito de literário e de belamente incompreensível. É uma vertigem quotidiana lidar com duas crianças tão pequeninas. Se eu as não tentasse ler (e elas a mim) como seria possível compreendermo-nos e amarmo-nos reciprocamente? Duvido que seja possível existir uma humanidade sem literatura, sem jogos de legibilidade/ininteligibilidade nos próprios actos quotidianos. Se bem que num registo mais próximo do fulgor do sangue, o conto “Crianças” do Herberto nos “Passos em Volta” diz muito sobre isto e sobre o poder evocativo da pequenada.
10. Indica dez amigos para o meme literário.
Bruno Peixe, o Fernando Ramalho e o Ricardo Noronha. O João Vasco e a Patrícia do Olhe que não. O Rafael Fortes, o Gusmão e o André Levy daqui do 5dias. O Sérgio Ribeiro doAnónimo século XXI. O Victor Nogueira. Se ele tiver tempo e pachorra para aturar isto o blogger de esquerda mais acutilante de todos os tempos (ex aequo com o Vidal), o Fernando Samuel do Cravo de Abril. O Vasco Morais do sem punhos de renda. O João Vilela. O Ricardo Santos. O Miguel Tiago… Quem quiser, quem lhe apetecer, quem tiver meia hora.

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