“ MANIFESTO PEQUENO – BURGUÊS
E, depois, um dia destes ou outro qualquer,
Direi do inconcebível Hoje a inconsequência das palavras
E, dos gestos adiados, acusarei o tempo,
Confirmando o descontentamento nas Repartições,
E a falta de Amor ao próximo, nos Mercados,
Culparei o abandono da Ética, em geral, pelo descalabro
E focarei na reabilitação dos passos perdidos a minha principal preocupação,
Rasurando, nas entrelinhas, o retratar atávico
De tudo o que não fizemos e justificando a minha ausência
Dos terreiros da liça, com um entorse no dedo indicador
Que me impede de premir o gatilho
E disparar qualquer acção concreta.
Criarei, mesmo assim, jogos de computador,
Com espingardas virtuais e veículos anfíbios
capazes de vencer as barreiras líquidas do senso comum
E impedir o avanço terrestre dos clones.
Contra a crise que tanto atinge uns, como engorda outros,
Apontarei o ambiente poluído e a falta de oxigénio nas ideias,
E forjarei soluções heróicas, perfeitamente utópicas,
Não me esquecendo sequer, no sentido inovador e globalizante
Pelo qual nos devemos pautar,
De promover um abaixo - assinado universal
Contra mim próprio, sem contudo deixar de cumprir
O meu dever cívico, oferecendo o meu voto esclarecido à pessoa errada.
Na devida altura ou mais tarde
Escreverei um Poema épico,
Virado para o mar
E partirei, ciente da certeza do meu despropósito,
Em busca do Eldorado, rumo à India, pelo Ocidente,
Onde não pararei até encontrar um Prestes João que me compre a dívida.
Aproveitarei, de algum modo, o excesso populacional
Para passar despercebido e lamentar, livremente,
Que o dia de hoje tenha passado aqui
Sem que eu lhe tocasse.
Na manhã seguinte castigar-me-ei, rapando o cabelo,
Recusando, contudo, por uma questão de princípios,
A capa laranja do novo Hare – Krishna, que me oferecem.
Por fim potencializarei, sem mais delongas, a minha estatura,
Baixo – média, até uma dimensão infinita
E leiloarei as dúvidas, a dádiva e a dívida
Pela melhor oferta, apagando o Ego, com promessas novas
Que me permitam continuar a não existir.
Ou então…pois… ou então… vou-me Qatar.
Carlos A.N. Rodrigues – 16 de Janeiro 2010
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Victor Nogueira
Gostei, Carlos, imenso.
Deixo-te três manifestos em troca:
Deixo-te três manifestos em troca:
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