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Deixa que a noite caia.
Sem pôr de sol ensanguentado
Sem brisas de promessas
Sem velas acesas
sombreando as paredes com chicotadas ébrias.
Deixa que a noite caia
e devagar se aniche nos corações aflitos.
Os pensamentos esfomeados
roem por dentro a vida
e tudo o que pintaste numa tela virgem
são borrões demoníacos
traços rasgados e sem sentido.
A ferida que vais talhando em ti
não pode ser fechada
e dela escorre a vida a pouco e pouco.
Deixa que a noite caia.
Encosta a cabeça na parede nua
e saboreia o último suor.
Já não sabes construir mais pontes
para esse castelo inexpugnável.
Cada segundo é uma bala
alojada bem fundo num corpo partido
sem amanhãs que o consertem.
Portanto não esperes
e solta as amarras que gemendo
prendem a vida numa tosca sátira.
Não vivas sonhos gastos
que o amanhã nunca trará.
E porque a luz do dia te assassina
com a raiva da ilusão
fecha os olhos vazios e apenas
deixa que a noite caia.
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Enviado por Margarida Piloto Garcia (hi5)
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