O darwinismo social é uma coincidência?
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A propósito de um texto de Sérgio Lavos sobre a ligação indissociável entre o Estado e a banca, idiotamente intitulado “Forte com os fracos, fraco com os fortes“, reparo que já não é a primeira vez que vários membros do Bloco de Esquerda recorrem frequentemente ao epíteto de “fracos” para classificar os trabalhadores em situações de grande vulnerabilidade social e/ou laboral. Não está em causa a crítica às políticas neoliberais dos governos PS, PSD e CDS que têm atacado os direitos dos trabalhadores. Mas como se poderá fazer a crítica do neoliberalismo a partir de um ponto de vista que substituiu a luta de classes entre o trabalho e o capital pela balança entre os “fracos” e os “fortes”?
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Pior do que o slogan da “Justiça na economia” com que o Bloco nos presenteou na última campanha eleitoral para as legislativas – como se a economia capitalista não fosse nefasta se se lhe injectasse uma dose substantiva de moral e de ética – chamar as camadas mais vulneráveis da classe trabalhadora de “fracos” parte de uma concepção absolutamente inqualificável da classe trabalhadora. É uma concepção que perspectiva os trabalhadores numa base moral(izante) e até biologizante e não de classe. Se são “fracos” os trabalhadores, os “fortes” serão, “naturalmente” nesta concepção, os burgueses. Ora, se a relação entre o trabalho e o capital se transmuta e deforma numa relação entre “fracos”, de um lado, e “fortes, do outro, qual o papel da política nisto tudo? Equilibrar um bocadinho as relações entre os “fortes” e os “fracos”? Como se justifica politicamente esta caracterização da sociedade? Porventura quem repete estas palavras muito cordatas de “fraco” e de “forte” já pensou no que politicamente isso significa para os trabalhadores? Quem profere regularmente estas alarvidades tem sequer noção do que isto tem na (des)educação política e ideológica das camadas mais vulneráveis da classe trabalhadora?
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Portanto, nesta concepção, a condição assalariada não parte mais de uma condição material de inserção nas relações sociais (de produção) mas da vitória ou da derrota do “fraco” perante o mais “forte”.  Honestamente, não se percebe o porquê do uso e abuso de uma terminologia absolutamente execrável e que pertence genealogicamente à direita mais reaccionária. Não estou com isto a dizer que o Bloco é fascista, nem tão pouco mais ou menos, mas não deixa de ser absolutamente desnecessário o recurso a uma terminologia de calibre tão sinuoso.
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Para não pensarem que se trata de um caso isolado, documento o que disse acima com algumas pérolas de dirigentes e militantes do BE:
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p.s. O texto de Sérgio Lavos avança ainda com uma caracterização “magnífica” da formação social portuguesa. Diz ele que «O nosso capitalismo continua a ser sui generis: não existe verdadeira concorrência em muitos sectores, as leis da oferta e da procura não funcionam, e, se por acaso há prejuízos, resultado das decisões dos gestores que estão à frente dos bancos, o Estado chega-se à frente e dá uma esmolinha» (negritos meus).
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Então não é que o pobre Sérgio chora para que em Portugal exista um capitalismo mais concorrencial… Reparem, “as leis da oferta e da procura não funcionam”… E que “não existe verdadeira concorrência”… Henrique Raposo, Marcelo Rebelo de Sousa ou Medina Carreira acenariam afirmativamente a tanta presciência pró-capitalista demonstrado por Lavos. Quando certa esquerda se preocupa em suspirar por um capitalismo puro, quando certa esquerda acha que o capitalismo não desemboca na concentração do capital e quando essa mesma esquerda, para corolário, vê o Estado como algo separado do capitalismo e das classes sociais, essa esquerda já não serve para nada.