Como se as mágoas se guardassem
Nos limites dos gestos
Iniciei o ritual num murmúrio claro, disciplinado
Sem hesitações,
Envenenada pela neblina de palavras eruditas.
Subi o mundo,
Construí do nada o sonho que te alimentou,
Numa técnica sem artifícios acrobáticos,
Com palavras surdas mas simétricas,
Com hálito cheirando a maresia.
Na tua cidade ias plantando árvores pelos caminhos,
Sementes de esperança ora voavam
Ora levitavam,
Gota a gota, sonhos púrpura
Como se a vida fosse cascata perfeita.
Solene, numa manhã sem luz simétrica,
O sol nasceu em mim, o ar ardeu
E, sem demora, ajudei o vento a orientar as nuvens.
Não sabias nada:
Dos pássaros emigrados,
Da luz fictícia das estrelas,
Do ser viajante que eu guardava em mim.
Do nada escreveste o teu poema
Guardaste as palavras
Eu atirei-te o vazio, quis orientar o teu mapa
Num processo por demais erudito
Mas apaguei-te o sonho
E, sem querer, multipliquei a angústia do teu existir.
Agora, caiem as folhas dos plátanos
E morre mais um teu dia com as horas extenuadas.
De pé, vi a chuva desabar na tua cidade
Mas continuei a acender a noite e a fazer cantar os meus poemas
( Julho de 2009)
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RECANTO DA POESIA EM VERSO E PROSA
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