As gotas na janela
escorrem ao ritmo dos blues.
São lágrimas pasmadas de amores perdidos
orvalhadas paixões que a tempestade pariu.
Os murmúrios gotejam
um nocturno forjado num piano pagão.
E o vulto move-se, crisálida efémera
dançando mágoas eternas, declamadas, suicidas.
Há no ar um odor metálico
um exaurir de emoções, quais versos de Sylvia Plath.
As gotas de chuva
enchem copos com aroma a vodka
e fazem as lágrimas desenhar caminhos sem retorno.
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Ai meu amor,
a chuva na janela tem o canto magoado de um fado de Amália
e eu não sei resistir-lhe.
Por isso, aqui me tens:
um vulto amarrotado desfiando pálidas ilusões
quase ébria de tanta melancolia.
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A noite chora em crescente agonia
e eu afogo-me nas gotas da janela.
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Margarida Piloto Garcia
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