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From: "M.C"
To: vicnog
Subject: Carta a Alguém.. quase desconhecido...
Date: Terça-feira, 5 de Outubro de 1999 22:34
Elvas, 5 de Outubro de 1999
Sentada à mesa no meu cantinho de trabalho, onde lavro, aro e semeio o caminhar dos dias, e o eco do teu "deves-me carta" bem presente no ouvido, pego-me à escrita.
Como pano de fundo, uma Aria de Bach.De uma beleza extrema, pegando-me na mão como quem guia o cego, leva-me à esfera mais interna do sentir, faz-me partícula, harmoniza-me com o Universo e impregna o ar de uma cantata de ternura.
È neste enquadramento sereno e belo, que me ponho a pensar no que hei-de dizer, a alguém que mal conheço.
Falar de mim a alguém que, de mim pouco sabe, seria, aparentemente uma tarefa fácil, pois muitos trechos haveria para escolher, dos cerca de quarenta anos (dos primeiros seis pouco recordo!) de vida vivida com o entusiasmo que o saber das diferentes idades me foi permitindo desfrutar.
Mas, contrariamente ao que seria de esperar, sinto-me como se quisesse fazer escoar todo um caudal de vida, pela garganta estreita da ponta da caneta, para esta folha branca feita foz.
Sinto o fluir da água... gosto de me espraiar como onda no crescer da maré...
O mar, sempre presente em mim que, curiosamente, escolhi viver neste mar de terra onde apenas ouço o vaivém das marés, quando o trigo está louro e a seara escaldante ondula, ao som da brisa, em fim de dia.
Também gosto do branco-cal das casas, que a luz dourada deste sol do Sul torna de um brilho único.
E depois há o céu...o céu do Alentejo, em que me perco a contar estrelas, quando, em madrugadas de trabalho, regresso a casa, cidade adormecida a sono solto.
A lua, ela também é minha companheira; espreito-a e, ora se esconde, ora se mostra, para me fazer lembrar que a vida é feita de momentos, pertença de uma única unidade.
E quando chega o frio, o aroma de lareira acesa impregna-me o sentir, quando de casa me aproximo e, cansada do dia, persigo o sonho ao som do estalar do azinho e me aconchego no crepitar da chama.
Tantas e tantas coisas mais teria para te dizer desta procura apaixonada com que faço o caminho, mas eu não sei falar de mim...
Socorro-me por isso, de um pedacinho do meu eu, que, talvez fale melhor do muito que eu gostaria que a ti chegasse, mas que não sei dizer.
Um jinhooooooo
M.
To: vicnog
Subject: Carta a Alguém.. quase desconhecido...
Date: Terça-feira, 5 de Outubro de 1999 22:34
Elvas, 5 de Outubro de 1999
Sentada à mesa no meu cantinho de trabalho, onde lavro, aro e semeio o caminhar dos dias, e o eco do teu "deves-me carta" bem presente no ouvido, pego-me à escrita.
Como pano de fundo, uma Aria de Bach.De uma beleza extrema, pegando-me na mão como quem guia o cego, leva-me à esfera mais interna do sentir, faz-me partícula, harmoniza-me com o Universo e impregna o ar de uma cantata de ternura.
È neste enquadramento sereno e belo, que me ponho a pensar no que hei-de dizer, a alguém que mal conheço.
Falar de mim a alguém que, de mim pouco sabe, seria, aparentemente uma tarefa fácil, pois muitos trechos haveria para escolher, dos cerca de quarenta anos (dos primeiros seis pouco recordo!) de vida vivida com o entusiasmo que o saber das diferentes idades me foi permitindo desfrutar.
Mas, contrariamente ao que seria de esperar, sinto-me como se quisesse fazer escoar todo um caudal de vida, pela garganta estreita da ponta da caneta, para esta folha branca feita foz.
Sinto o fluir da água... gosto de me espraiar como onda no crescer da maré...
O mar, sempre presente em mim que, curiosamente, escolhi viver neste mar de terra onde apenas ouço o vaivém das marés, quando o trigo está louro e a seara escaldante ondula, ao som da brisa, em fim de dia.
Também gosto do branco-cal das casas, que a luz dourada deste sol do Sul torna de um brilho único.
E depois há o céu...o céu do Alentejo, em que me perco a contar estrelas, quando, em madrugadas de trabalho, regresso a casa, cidade adormecida a sono solto.
A lua, ela também é minha companheira; espreito-a e, ora se esconde, ora se mostra, para me fazer lembrar que a vida é feita de momentos, pertença de uma única unidade.
E quando chega o frio, o aroma de lareira acesa impregna-me o sentir, quando de casa me aproximo e, cansada do dia, persigo o sonho ao som do estalar do azinho e me aconchego no crepitar da chama.
Tantas e tantas coisas mais teria para te dizer desta procura apaixonada com que faço o caminho, mas eu não sei falar de mim...
Socorro-me por isso, de um pedacinho do meu eu, que, talvez fale melhor do muito que eu gostaria que a ti chegasse, mas que não sei dizer.
Um jinhooooooo
M.
Um jinhooooooo
A moça de Elvas
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