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Invento-te quando não te tenho e os meus lábios traçam caminhos nocturnos onde a lua é manta de suspiros. Com a polpa de um só dedo passeio no teu rosto, sigo a curva do teu queixo e cerro-te as pálpebras para que só me vejas por dentro.
(...)
Parecem surdas as tuas mãos que não sentem a urgência dos meus braços. Mas um arrepio denuncia a tua pele que se ergue em borbulhas minúsculas que sinto quando desço pelo teu pescoço. Faz-se espada a minha língua, atravessa o teu dorso e estremeces, arqueio os meus ombros para te guardar, como órfão, no meu seio.
(...)
Morro dentro de mim quando não vens, desventro a minha cama onde o teu vulto se afundou, suplico-te delírios em reza sentida que eu sei que não chega até ti.
Quero-te tanto! Não sei se algum dia o saberás, não sei se quero que o saibas, porque o meu amor é apenas a insónia das noites brancas onde te busco, uma vez e outra até que os meus ossos se desfaçam em cansaços, até que as sílabas se esvaziem, até que o mar grete e rache sem a água que banha as minhas veias.
Ofereço-me a ti como oráculo no monte do templo, por uma só palavra, aquela que nunca me dirás.
"O coração é puta sempre à espera"
Victor Barroso Nogueira na concha do teu olhar o segredo das minhas mãos
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