Viva a Vida !

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quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

um texto de margarida morgado

* Margarida Morgado

Francisco 

Que prazer feito de dor e alegria de puro maravilhamento é ler-te! 

Que atenção feita dessa tensão de ser com tudo e em tudo o que vive á tua volta. 

Que sabedoria de olhar aquilo que vê, de cantar quando a palavra não chega, de escutar em silencio o que exige a nossa pele, ousaria dizer! E depois ofereces-nos tudo isso com a generosidade de quem dá quem e, a própria vida! 

E por isso que, lendo-te, tenho a sensação estranhíssima das tuas memórias próprias e das memórias de memórias que outros te contaram e foram apropriadas por ti em termos de escrita tornando-as tuas. Mas depois, passaram a ser nossas, também, transbordastes de imagens de imagens sucessivas que, por sua vez transbordam desse magnifico livro que escreveste, para que as acolhamos e vivam como nossas. Por isso as tuas Janelas contam e choram e riem em nós, na mais genuína emoção de emoções que se tornam tão nossas como as que nos ocorrem e antes vivemos! E em nós ecoam ressonâncias de vida quebradas d'alma fora! 

Ao contrario dos que pensam será tua escrita de difícil leitura, para mim foi um mergulho de frescura no fundo azul do mar que te leva a ser o escritor que és, transcritor das imagens que nesse passado se sucedem no acontecer do acto de viver o momento que passa. Assim intuo o escritor que és fraterno e simples como a tua escrita, essa imensa metáfora da vida que também é a tua, grande e humaníssima vida que o teu Jogo de Janelas nos segreda e abre frestas para que a possamos intuir. 

Por favor, Francisco, fica atento ao teu desejo de escrita. Sê-lhe fiel, não lhe resistas! 

Sem sombra de favor e muito menos de bajulação, Jogo de Janelas foi o que de melhor li nestes últimos tempos de crepúsculos baços. A ele voltarei para me tornar eu mais eu mesma. 

Obrigada por teres vindo a Évora, onde conheceste o peso da solidão milenar, sem vozes ecoando no silencio, que as esquinas insinuam. Silencio que por vezes nos devora, outras nos são aquelas " coisas que terei pudor de contar seja a quem for" e que afinal são tão só o mais secreto e intimo de nós mesmos. 

Obrigada por esse reconto, que não esquecerei, de como estas Janelas em ti surgiram e cresceram e em ti, escrevendo-as, se escreveram. Reconto-o sempre que falo do teu livro aos amigos. Instante que nos prende e nos agarra nos ombros d'alma olhando-nos de frente, e nos obriga a guarda-lo nas grutas do ser dizendo-nos: sê quem és, não tenhas medo. 

Margarida 

Assim vivi o momento mágico que me foi o lançamento do " Jogo de Janelas " . Bem hajas. Um beijo. 

Margarida Morgado
 — com Francisco Ceia.

partilhado por joana espanca bacelar

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Margarida Piloto Garcia - Outras palavras


Outras palavras ( a publicar)

Matam, as palavras que escorrem nos cantos dos olhos
ansiosas, brutas, paralisantes de agonias tóxicas.
Vampirizam-nos as vogais numa deslumbrante dança
com sensuais e cúmplices consoantes .
O sol de cada manhã jaz parido nas mãos de noite
que celebram afectos. Cúmplice de tudo, o coração
esbofeteia-nos no pingar das horas solitárias.
E as palavras voltam a morder as entranhas
numa sofreguidão plasmada. Erguem-se as verdades
e às escondidas dão-nos bússolas que comemos
com a mesma boca com que engolimos as palavras
com a cortesia anónima com que olhamos os outros.
Cegas, rolam para os dedos e escrevem matreiras
as confissões histriónicas cheias de declarações
a secar a boca e a chegar o sal à pele.
No fim, o tempo corre e quem paga é a chuva
e o vento, e a dor que passa apressada.
Resta a vida vociferada, a ternura fechada
na gaveta e o corpo que urge.


©Margarida Piloto Garcia.

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