Viva a Vida !

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quinta-feira, 15 de maio de 2008

Os «manos» Nogueira ou o poeta é um fingidor



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Autopsicografia

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O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

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E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

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E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
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Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlaçemos as mãos).
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Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para o pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
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Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente.
E sem desassossegos grandes.
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De Fernando Nogueira Pessoa
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* Victor Nogueira
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Neste jogo de palavras
e de gestos comedidos
Aqui
neste canto da cidade
preso à roda do leme
em sonhos
que sonho em ti
busco o passado que não fui
no futuro que não serei
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suspenso do teu andar
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Arde-me o sangue nas veias
neste fogo vento suão
murmúrio do teu sorriso
verde brisa na planura
fresca do teu olhar
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Agarro os restos de mim
Preso por arames
Meto-me na mala
Ponho o pé na estrada
Malabarista do verbo
Bordejando as chamas
Tiro das palavras o sentido que lá não está
Hoje,
De novo á beira do caminho
Ergo novamente os diques
Tapo os interstícios da muralha que rompeste
Baixo lentamente a vizeira
Reponho a máscara
Numa pirueta
Até que o coração pare
ou a serenidade regresse
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1987.08.07 - Setúbal
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Dizem que os livros são os nossos melhores e maiores amigos.
Mas os livros não se sentam á nossa beira,
nem tem olhos, nem sorriem
nem nos abraçam,
nem connosco passeiam pela rua, pelo campo.
Nada podemos dar aos livros
senão as letras dos nossos pensamento ou
um pouco de nós
para que chegue aos outros.
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Os livros têm os olhos que nós temos.
E os seus lábios são os nossos lábios.
Porque se os livros tivessem olhos
e lábios e mãos e dedos
seriam talvez pessoas
mas nunca livros.
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Évora
1969.Março.19
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Límpidas como veludo
Cálidas, delicadas, saltitantes

brotam dos nossos lábios as palavras ...
Por entre os dentes cerrados
duras, agrestes, cortantes

irrompem as palavras.
São uma ponte, um muro
alinhadas ou em torvelinho
um labirinto, um caminho
enquanto o tempo escorre
----------e o carinho apetece.
Tantas palavras para
não dizer
que somos jovens
homem e mulher
enquanto as mãos
compostas
pousam no regaço ou no volante

enquanto lá fora
correm o ar e a brisa e no mar se quebram as ondas
e na estrada
passam os carros velozes.
Tanto mar e tanta sede.
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1986.01.01 - Paço de Arcos
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É UM PÁSSARO É UMA FLOR
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Uma águia paira no ar.
Correm os rios e as ondas
-----------------em espuma se desfazem
A brisa traz o cheiro a maresia
enquanto ouço nesta alvorada
----------------a carícia do teu rosto
----------------no veludo da voz quando despertas
----------------o teu corpo esbelto e apetecido.
Procuro-te na ternura das mãos
------------enquanto
------------sequiosos
------------os lábios murmuram
palavras de silêncio e prazer.
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Gaivotas partem em bandos.
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É um pássaro trémulo o silêncio desta flor do mar
E dói esta mágoa do que ficou encoberto
------------------como bosque semeado fora do tempo
------------------como sol arrancado antes de florir.
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Ah! quem parasse o escorrer destes dias!
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1986.05.01 - Setúbal
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clicar nas imagens para ler

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DECLARAÇÃO: O poeta é um fingidor
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Maria do Mar, Maria Papoila, Maria dos Mil Sóis Rendilhados, Maria Vai com as Outras, Niña do Beco dos Passarinhos, Joana Princesa com Sabor a Cravo e Canela, Fatma das Caldas, Fátma da Ilhoa da Floresta Queimada, Madre Abadessa Diabinho Diabeza, Niña de Aguiar e Belmonte, Joana da Côr do Trigo em Flor, Joana Ratinho, Gaivotinha, Flor do Mar sem Guarida, Mana Flor ou Mana Clarisse , Raposinha, Penélope, Luciferazinha, são  personagens talvez verdadeiros mas com nomes inventados. João Bimbelo, João Baptista Cansado da Guerra ou o Conde Niño são personagens e como tal não existem. Se existissem, então eles não estariam de parabéns por qualquer delas. Mas elas, talvez os merecesssem, apesar de inventadas pelo escriba, a quem teriam deixado para trás :-)
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Talvez porque o escriba, embora malabarista do verbo bordejando a chama, pouco valor teria nas histórias que inventava com a liberdade e arte que a todos os escribas é permitido.
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Victor Nogueira aka Kant_O_XimPi.Manog
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PS – Mais declara o escriba que não costuma ficar a chorar pelo leite derramado e do passado procura reter apenas aquilo em que foi feliz. O resto, o resto são «estórias», como agora se diz.
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1 comentário:

Anónimo disse...

eu vou atingir quase a perfeição quando conseguir esquecer o que não presta e só me lembrar do que que é agradável