* Gilberto de Oliveira
No céu as nuvens em densa atmosfera,
“premendo" os montes, o horizonte, a vida,
á mais angustiante, funesta e deprimida
das existências que nos dilacera.
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No chão o lixo - que vergonhoso era! -
em pó, em ossos, em erva ressequida,
medrando a esmo, como enlouquecida
fecundação de torpe primavera.
No chão o lixo - que vergonhoso era! -
em pó, em ossos, em erva ressequida,
medrando a esmo, como enlouquecida
fecundação de torpe primavera.
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Por fauna, aves negras e guerreiras
de garra adunca e bicos de morder,
só rapinando em lutas traiçoeiras.
Por fauna, aves negras e guerreiras
de garra adunca e bicos de morder,
só rapinando em lutas traiçoeiras.
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Por flora apenas, ainda por crescer,
quase mortais, raquíticas purgueiras ...
e nada mais que se pudesse ver. (1)
Por flora apenas, ainda por crescer,
quase mortais, raquíticas purgueiras ...
e nada mais que se pudesse ver. (1)
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1 - No outro dia, véspera da anunciada chegada do "Guiné" em que embarcaríamos com destino ás nossas terras, passámos o tempo a passear - eu e os meus dois companheiros de saída antecipada - circundando as proximidades do Campo para além das zonas nossas conhecidas, isto é, a zona das pedreiras, bem como do lado oposto, a da praia do Chão Bom, onde fomos fazer uma última despedida aos nossos camaradas que ficavam no cemitério do Tarrafal. A sensação que me ficou desse passeio foi tão triste e desoladora pelo que vimos de miséria nos raros sítios habitados pelos indígenas naquela faixa da ilha que, ainda hoje evocando a desolação da vida daquelas gentes, a pobreza dos quase buracos em que habitavam e das refeições cozinhadas ao ar livre sobre simulacros de fogo alimentado com bosta seca colhida pelos caminhos, o seu muito sofrimento que se imprimira no meu espírito durante aqueles anos vividos em amarga aridez, traduzi nestes versos.
1 - No outro dia, véspera da anunciada chegada do "Guiné" em que embarcaríamos com destino ás nossas terras, passámos o tempo a passear - eu e os meus dois companheiros de saída antecipada - circundando as proximidades do Campo para além das zonas nossas conhecidas, isto é, a zona das pedreiras, bem como do lado oposto, a da praia do Chão Bom, onde fomos fazer uma última despedida aos nossos camaradas que ficavam no cemitério do Tarrafal. A sensação que me ficou desse passeio foi tão triste e desoladora pelo que vimos de miséria nos raros sítios habitados pelos indígenas naquela faixa da ilha que, ainda hoje evocando a desolação da vida daquelas gentes, a pobreza dos quase buracos em que habitavam e das refeições cozinhadas ao ar livre sobre simulacros de fogo alimentado com bosta seca colhida pelos caminhos, o seu muito sofrimento que se imprimira no meu espírito durante aqueles anos vividos em amarga aridez, traduzi nestes versos.
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Chão Bom (em Crioulo cabo-verdiano (escrito em ALUPEC): Txon Bon) é uma aldeia a noroeste da ilha de Santiago, em Cabo Verde.
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A norte da mesma aldeia, fica um tristemente célebre campo de concentração, onde eram encerrados os inimigos políticos do regime ditatorial de Salazar. Este local era denominado por Colónia Penal do Tarrafal, tendo sido para lá enviados os primeiros prisioneiros (157) a 29 de Outubro de 1936, tendo lá falecido cerca de 40 detidos. O primeiro a falecer foi Pedro de Matos Filipe em 20 de Setembro de 1937. Foi encerrada em 1954, tendo sido reaberta em 1961, especialmente vocacionada para presos políticos africanos.
A norte da mesma aldeia, fica um tristemente célebre campo de concentração, onde eram encerrados os inimigos políticos do regime ditatorial de Salazar. Este local era denominado por Colónia Penal do Tarrafal, tendo sido para lá enviados os primeiros prisioneiros (157) a 29 de Outubro de 1936, tendo lá falecido cerca de 40 detidos. O primeiro a falecer foi Pedro de Matos Filipe em 20 de Setembro de 1937. Foi encerrada em 1954, tendo sido reaberta em 1961, especialmente vocacionada para presos políticos africanos.
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in Wikipedia
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Nota mais desenvolvida em http://nosmedia.wordpress.com/2007/04/25/
1 comentário:
Mesmo a esta distância no tempo e no espaço, faz doer!...
Bj
Maria Mamede
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