Não sei como não te vi antes, como falei contigo horas a fio sem perceber que o som da tua voz é firme e seguro e que sussurrado aos ouvidos é como uma música secreta, não sei as vezes que te olhei nos olhos sem nunca ver que tem tons diferentes quando sorris, quando está sol, quando o dia se turva, cores como cascas de árvores, com mais ou menos folhagens verdes reflectidas, tons de mel quente na doçura em que por vezes me olhas, como nunca percebi que o teu franzir de testa é engraçado, como os gestos quando falas de coisas que te entusiasmam, não sei como no fundo te vi sem nunca te ver o que vejo hoje, a suavidade secreta da pele, o calor do teu sorriso, a forma como me tocas, quase como se eu fosse um instrumento musical, que fazes vibrar em tons graves ou agudos, não sei como nunca percebi que acertamos o passo, da mesma forma que acertamos os gestos, as opiniões, os lábios e os abraços, como nunca vi que era a curva do teu peito o local ideal para apoiar a minha cabeça, não sei como escondeste o teu sabor secreto e salgado, não sei como nunca percebi que dentro de ti estavas tu e que agora te vejo com clarividência das cegueiras inevitáveis.
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