Foi há muito tempo. no reino que não era reino. chamava-lhe assim. reino. eramos senhores e servos. indios e cowboys. donos da alegria do planeta. todas as mangueiras eram nossas . todos os cajueiros eram nossos . a estrada era nossa. aí jogávamos à bola. faziamos corridas de bicicleta. construíamos navios com papel de jornal. quando chovia os barcos navegavam no mar do nosso reino. a alegria estava estampada nos nossos rostos de crianças. comiamos com pequenos paus couves cozinhadas numa lata, em cima de uma fogueira, feita a rigor, para o festim. eramos donos de tudo. o ar. a chuva. que havia de melhor que um banho de chuva intensa e morna. chapinhar nas poças que ficavam depois de bátegas de água cairem do céu. o sol surgia sorrindo e dava gargalhadas ao ver-nos. estavamos secos. prontos para outro ritual de água, que fertilizava as nossas imaginações. a chuva fazia-me feliz como as romãs. tinha uma música muito própria. chamava o sol. a chuva ajudava-nos a criar histórias de naufrágios. viagens homéricas. principes e princesas . sinaleiros. policias e ladrões. todas as realidades eram possíveis. o sol inundava-nos de luz. trazia-nos outras aventuras. outros brinquedos. as mangas verdes. as mangas verdes com sal. mangas verdes com sal. o brinquedo sagrado da minha infância.
.
Cecília Barata (hi5)
.
.
.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário